28 maio 2011
MADREDEUS - Haja o Que Houver
Haja o que houver eu estou aqui
Haja o que houver espero por ti
Volta no vento, ó meu amor!
Volta depressa por favor.
Há quanto tempo já esqueci
Porque fiquei longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor!
Eu sei, eu sei
Quem és para mim
Haja o que houver espero por ti
18 maio 2011
«Ao Provedor do Telespetador [sic] da RTP» [FMV]
«Ao Provedor do Telespetador [sic] da RTP» [FMV]
Bruxelas, 14 de Maio de 2011
Ex.mo Senhor
Dr. José Carlos Abrantes
Senhor Provedor do Telespetador [sic] da RTP,
Prometo a V. Ex.ª que tentarei evitar comentários demasiado técnicos, pedindo desculpa por eventuais imprecisões terminológicas, que se justificam (parece paradoxo, mas garanto que não é) por ser meu único objectivo explicar a leigos em fonologia e fonética (áreas diferentes do saber) e em grafemática e grafética (idem) o erro de se chamar “telespetador” a um telespectador. De antemão, portanto, as minhas sinceras desculpas.
Gostaria de chamar a atenção para o facto de a designação do cargo de V. Ex.ª violar as regras mais elementares quer dos compostos morfológicos da língua portuguesa (1), quer das regras do processo do vocalismo átono do português europeu (2), devendo V. Ex.ª rever com carácter de urgência a designação, pois existe solução para este problema (3).
(1) A palavra telespectador (com C) designa “Que ou aquele que assiste a um espectáculo de televisão”. Esta acepção (do dicionário em linha da Priberam) parece ser adepta da tese segundo a qual o elemento tele- é desconsiderado enquanto radical grego, preferindo afirmar-se que provém da palavra “televisão”. Não sou adepto desta tese, mas não é aqui o lugar para debater matérias do foro académico. Contudo, considerando o radical (espect), que sucede a um prefixo (tel) e precede uma vogal temática (a) e um sufixo (dor), peço a V. Ex.ª que se concentre no radical. ‘Espect’ explica-se pelo latim spectātor. Contudo, V. Ex.ª é “Provedor dos Telespetadores”. Teremos então um inexistente radical ‘espet’, que não se explica pelo latim spectātor, mas pelo germânico speuta, que deu palavras portuguesas como “espeto” (espet + o) e alemãs como Spieß .
(2) Direi a V. Ex.ª que, segundo o processo do vocalismo átono do português europeu, i.e., o processo que ocorre em português europeu, citando de cor palavras de Esperança Cardeira (poderei enviar mais tarde as referências a V. Ex.ª), “as vogais não acentuadas sofreram, na norma do português europeu, um acentuado processo de enfraquecimento”. Ou seja: perante “telespetador” é previsível que V. Ex.ª (ou qualquer outro falante de português europeu) pronuncie [tɛlɛʃpɨtɐ'doɾ] em vez de [tɛlɛʃpɛtɐ'doɾ].
(3) «telespectador/telespetador» são duas acepções aceites (princípio da facultatividade do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990) em português europeu, como verificará no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de João Malaca Casteleiro (caso V. Ex.ª não saiba, co-autor e negociador do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990), publicado pela Porto Editora. Gostaria de perguntar a V. Ex.ª qual a razão de optar pela segunda e não pela primeira. A primeira é válida, conforme poderá verificar na página 555 da publicação que acabo de mencionar.
Tenho outros comentários sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, mas, para já, limito-me a esta matéria do “telespectador” vs. “telespetador”.
Para o esclarecimento de qualquer dúvida, encontro-me ao inteiro dispor de V. Ex.ª
Agradeço toda a atenção dispensada,
E envio os meus cordiais cumprimentos.
Francisco Miguel Valada
Intérprete de Conferência profissional junto das Instituições da União Europeia e autor do livro Demanda, Deriva, Desastre – os três dês do Acordo Ortográfico (Textiverso, 2009), do artigo “Os lemas em ‘-acção’ e a base IV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990″, Diacrítica – Série Ciências da Linguagem, n.º 24/1, pp. 97-108, Braga: Universidade do Minho, 2010 e de artigos na imprensa sobre a matéria em apreço.
Bruxelas, 14 de Maio de 2011
Ex.mo Senhor
Dr. José Carlos Abrantes
Senhor Provedor do Telespetador [sic] da RTP,
Prometo a V. Ex.ª que tentarei evitar comentários demasiado técnicos, pedindo desculpa por eventuais imprecisões terminológicas, que se justificam (parece paradoxo, mas garanto que não é) por ser meu único objectivo explicar a leigos em fonologia e fonética (áreas diferentes do saber) e em grafemática e grafética (idem) o erro de se chamar “telespetador” a um telespectador. De antemão, portanto, as minhas sinceras desculpas.
Gostaria de chamar a atenção para o facto de a designação do cargo de V. Ex.ª violar as regras mais elementares quer dos compostos morfológicos da língua portuguesa (1), quer das regras do processo do vocalismo átono do português europeu (2), devendo V. Ex.ª rever com carácter de urgência a designação, pois existe solução para este problema (3).
(1) A palavra telespectador (com C) designa “Que ou aquele que assiste a um espectáculo de televisão”. Esta acepção (do dicionário em linha da Priberam) parece ser adepta da tese segundo a qual o elemento tele- é desconsiderado enquanto radical grego, preferindo afirmar-se que provém da palavra “televisão”. Não sou adepto desta tese, mas não é aqui o lugar para debater matérias do foro académico. Contudo, considerando o radical (espect), que sucede a um prefixo (tel) e precede uma vogal temática (a) e um sufixo (dor), peço a V. Ex.ª que se concentre no radical. ‘Espect’ explica-se pelo latim spectātor. Contudo, V. Ex.ª é “Provedor dos Telespetadores”. Teremos então um inexistente radical ‘espet’, que não se explica pelo latim spectātor, mas pelo germânico speuta, que deu palavras portuguesas como “espeto” (espet + o) e alemãs como Spieß .
(2) Direi a V. Ex.ª que, segundo o processo do vocalismo átono do português europeu, i.e., o processo que ocorre em português europeu, citando de cor palavras de Esperança Cardeira (poderei enviar mais tarde as referências a V. Ex.ª), “as vogais não acentuadas sofreram, na norma do português europeu, um acentuado processo de enfraquecimento”. Ou seja: perante “telespetador” é previsível que V. Ex.ª (ou qualquer outro falante de português europeu) pronuncie [tɛlɛʃpɨtɐ'doɾ] em vez de [tɛlɛʃpɛtɐ'doɾ].
(3) «telespectador/telespetador» são duas acepções aceites (princípio da facultatividade do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990) em português europeu, como verificará no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de João Malaca Casteleiro (caso V. Ex.ª não saiba, co-autor e negociador do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990), publicado pela Porto Editora. Gostaria de perguntar a V. Ex.ª qual a razão de optar pela segunda e não pela primeira. A primeira é válida, conforme poderá verificar na página 555 da publicação que acabo de mencionar.
Tenho outros comentários sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, mas, para já, limito-me a esta matéria do “telespectador” vs. “telespetador”.
Para o esclarecimento de qualquer dúvida, encontro-me ao inteiro dispor de V. Ex.ª
Agradeço toda a atenção dispensada,
E envio os meus cordiais cumprimentos.
Francisco Miguel Valada
Intérprete de Conferência profissional junto das Instituições da União Europeia e autor do livro Demanda, Deriva, Desastre – os três dês do Acordo Ortográfico (Textiverso, 2009), do artigo “Os lemas em ‘-acção’ e a base IV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990″, Diacrítica – Série Ciências da Linguagem, n.º 24/1, pp. 97-108, Braga: Universidade do Minho, 2010 e de artigos na imprensa sobre a matéria em apreço.
06 maio 2011
Creio
Não conhecia este poema de Natália Correia. Descobri-o hoje e adorei. Quero partilhá-lo convosco.
Creio nos anjos que andam pelo mundo
Creio na deusa com olhos de diamantes
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro
Creio na carne que enfeitiça o além
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Amén
(Natália Correia)
Creio nos anjos que andam pelo mundo
Creio na deusa com olhos de diamantes
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro
Creio na carne que enfeitiça o além
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Amén
(Natália Correia)
03 maio 2011
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