Não sou propriamente isento de pecado nisto dos estrangeirismos. Tenho de reconhecer que me deixo aculturar com alguma facilidade. Mas não pude deixar de ler esta notícia e me lembrar dos teus posts sobre o assunto. Parece que, do outro lado do mar, andam mais preocupados com o assunto do que por cá. Aqui vai:
Clara no essencial os portugueses descartam-se sempre. Não gosto de Eça justamente pelo uso e abuso dos ditos. Oh, eu sei que isto é quase blasfêmia, mas não gosto e pronto. Registo com agrado as tuas preocupações em defesa da língua que é de todos nós. Beijos e bom ano.
Não, não é blasfémia nenhuma. O Eça abusava dos estrangeirismos. No séc. 19 estavam muito na moda os galicismos e ele usava-os imenso. Na literatura, no entanto, usou-os menos do que na correspondência. Nesta, então, até enjoa! Não gosto de estrangeirismos em época nenhuma mas o que se passa hoje é pior do que estrangeirismos. É uma deturpação semântica das palavras portuguesas. Para mim, isso é pior do que estrangeirismos.
A deturpação é devida à ignorância. Infelizmente tenho vindo a verificar cada vez mais "ignorâncias" dessas nos orgãos de comunicação social ! (para evitar dizer "media" ... ;-) estrangeirismos ! ...)
Julgo que a evidência só se prova a si mesma... ou estarei a ler mal? Tenho andado preguiçoso (eu sou preguiçoso)por isso só hoje aqui venho a lê-la e a desejar-lhe Feliz 2008.
O problema é semântico e não etimológico. Evidência é uma palavra portuguesa como, aliás, todas as que tenho comentado nesta série sobre as modernices de linguagem. Em português, significa, qualidade ou carácter de evidente, ou seja, aquilo que é claro, patente, visível, manifesto. Em inglês usa-se evidence com o sentido de "prova" o que não está errado... em inglês. O problema está em usar uma palavra que já existe em português com um sentido que é próprio de uma língua estrangeira em substituição de uma outra palavra portuguesa com o mesmo significado. São os casos que já mencionei de "adição", "antecipar", "suposto"e "inteligência", todas palavras portuguesas que estão a ser utilizadas - principalmente nos meios de comunicação social - com sentidos próprios de outras línguas (nestes casos, o inglês).
Gosto de música e gosto de cantar. Gosto de ler. Gosto de escrever. Gosto de arte, de design, de artesanato e de fotografia. Gosto de línguas e de linguística. Gosto de papéis velhos. Gosto do meu trabalho. Gosto de férias. Gosto de comer bem. Gosto de passear de carro, de parar nas aldeias e meter conversa com as pessoas, principalmente pessoas de idade. Gosto de pessoas de idade. Gosto da Cidade. Gosto das Serras. Gostava que o Mundo estivesse melhor mas os meus esforços não têm resultado...
*Fantasma é o termo usado nas bibliotecas para designar uma ficha que é colocada em substituição de um livro que se retirou da estante para ir à leitura.
DE VOLTA À PRATELEIRA
RODRIGUES, Ernesto, et al. - O Leão da Estrela WEST, Morris - As sandálias do Pescador WILDE, Oscar - O retrato de Dorian Gray FONSECA, Manuel da - Aldeia Nova RÉGIO, José - O príncipe com orelhas de burro DIDEROT - A religiosa VARGAS LLOSA, Mario - A tia Júlia e o escrevedor LONDON, Jack - A peste escarlate BUCK, Pearl S. - A flor oculta TAGORE, Rabindranath - A casa e o mundo CASTELO BRANCO, Camilo - Eusébio Macário CASTELO BRANCO, Camilo - Anátema FLAUBERT, Gustave - Madame Bovary BALZAC, Honoré de - A mulher de trinta anos CASTRO, Ferreira de - Emigrantes HUGO, Victor - Nossa Senhora de Paris PINTO (Sacavém), Alfredo - Castelos de fantasia REDOL, Alves - Gaibéus CASTRO, Ferreira de - A selva EBENSTEIN, William - 4 ismos DOSTOIEVSKI, Feodor - O jogador QUIGNARD, Pascal - Vie secrète DOSTOIEVSKI, Fédor - Noites brancas CALDWELL, Ian; THOMPSON, Dustin - A regra de quatro BRADBURY, Ray - Fahrenheit 451 ORWELL, George - Mil Novecentos e Oitenta e Quatro PIRES, José Cardoso - A cavalo no Diabo BRANDÃO, Raul - Os pobres DOSTOIEVSKI, Fédor - A voz subterrânea QUIGNARD, Pascal - La leçon de musique QUIGNARD - Le sexe et l'effroi OVÍDIO - A arte de amar PETRÓNIO - Satiricon BOCCACCIO - Decameron STEINER, Georges - Linguagem e silêncio: ensaios sobre a literatura, a linguagem e o inumano HUXLEY, Aldous - Admirável Mundo Novo COHN, Norman - Na senda do Milénio: milenaristas revolucionários e anarquistas místicos na Idade Média COULANGES, Fustel de - A cidade antiga MOREAU, Mário - Giacomo Puccini: o Homem e a Obra SÓFOCLES - Antígona ANDRESEN, Sophia de Melo Breyner - Contos exemplares BRAGA, Mário - Viagem incompleta GOMES, Soeiro Pereira - Esteiros ALEGRE, Manuel - Uma outra memória
10 comentários:
Olá, Clara.
Não sou propriamente isento de pecado nisto dos estrangeirismos. Tenho de reconhecer que me deixo aculturar com alguma facilidade. Mas não pude deixar de ler esta notícia e me lembrar dos teus posts sobre o assunto.
Parece que, do outro lado do mar, andam mais preocupados com o assunto do que por cá. Aqui vai:
http://www.mundolusiada.com.br/ACONTECE/acon379_dez07.htm
Um abraço!
Ups...
Acho que a ligação não está ok.
Coloca no Google esta fórmula:
brasil+juiz federal+estrangeirismos
e lê a notícia da Folha Online ou do Mundo Lusíada.
E acho bem. Obrigada, Gaspar.
É como os "pacientes" que vão ao médico.
Isto é, as pessoas que têm paciência...vão ao médico.
Para quê??
Com o Serviço Nacional de Saúde é preciso ser muito paciente...
Clara no essencial os portugueses descartam-se sempre.
Não gosto de Eça justamente pelo uso e abuso dos ditos. Oh, eu sei que isto é quase blasfêmia, mas não gosto e pronto.
Registo com agrado as tuas preocupações em defesa da língua que é de todos nós.
Beijos e bom ano.
Não, não é blasfémia nenhuma. O Eça abusava dos estrangeirismos. No séc. 19 estavam muito na moda os galicismos e ele usava-os imenso. Na literatura, no entanto, usou-os menos do que na correspondência. Nesta, então, até enjoa!
Não gosto de estrangeirismos em época nenhuma mas o que se passa hoje é pior do que estrangeirismos. É uma deturpação semântica das palavras portuguesas. Para mim, isso é pior do que estrangeirismos.
A deturpação é devida à ignorância. Infelizmente tenho vindo a verificar cada vez mais "ignorâncias" dessas nos orgãos de comunicação social ! (para evitar dizer "media" ... ;-) estrangeirismos ! ...)
Julgo que a evidência só se prova a si mesma... ou estarei a ler mal?
Tenho andado preguiçoso (eu sou preguiçoso)por isso só hoje aqui venho a lê-la e a desejar-lhe Feliz 2008.
O problema é semântico e não etimológico. Evidência é uma palavra portuguesa como, aliás, todas as que tenho comentado nesta série sobre as modernices de linguagem. Em português, significa, qualidade ou carácter de evidente, ou seja, aquilo que é claro, patente, visível, manifesto. Em inglês usa-se evidence com o sentido de "prova" o que não está errado... em inglês. O problema está em usar uma palavra que já existe em português com um sentido que é próprio de uma língua estrangeira em substituição de uma outra palavra portuguesa com o mesmo significado. São os casos que já mencionei de "adição", "antecipar", "suposto"e "inteligência", todas palavras portuguesas que estão a ser utilizadas - principalmente nos meios de comunicação social - com sentidos próprios de outras línguas (nestes casos, o inglês).
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