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18 junho 2009

E depois do adeus

Morreu o maestro José Calvário. Muito cedo, cedo de mais, com apenas 58 anos. Nascido em 1951, tinha apenas 23 anos quando compôs a mais emblemática e (para mim) a melhor canção de sempre do festival da canção: E depois do adeus.
José Calvário era, talvez, o mais jovem de uma linhagem de maestros dedicados, totalmente ou em parte, à composição de música ligeira. Linhagem de que fizeram parte Alves Coelho, Raúl Portela, Raúl Ferrão, Armando Leça, Belo Marques, Cruz e Sousa, Frederico de Freitas, Tavares Belo, Nóbrega e Sousa, Frederico Valério, Shegundo Galarza, Jorge Costa Pinto e Pedro Osório (estes dois ainda vivos), entre muitos outros.
A música ligeira já não é o que era e - salvo aqueles casos (que, felizmente, nem são assim tão poucos) em que um elevado talento musical consegue suprir a ausência de formação teórica - predomina, desde os anos 80, o "compositor de assobio" assoprado para o gravador e arranhado na viola ou no teclado, o solidó de sempre ajudado pelos efeitos especiais da electrónica. Do tão vituperiado nacional cançonetismo, desceu-se à música pimba e, talvez pior, às imitações da pop britânica e americana.
Não sei, presentemente, quem serão os herdeiros desta linhagem que Calvário abandonou tão cedo. O fenómeno não é apenas português: a canção italiana e a francesa desapareceram da rádio e, se ainda existem, não conseguem romper a malha apertada das grandes editoras, controladas pelos mesmos grupos económicos que controlam as rádios e as televisões e que, em todo o mundo, forjam sucessos com a mesma indiferença com que destroem sonhos.
Não sei como será, depois deste adeus.

4 comentários:

vera disse...

fizeste-me recordar uma melodia e cantá-la por aqui :-)

Anónimo disse...

E depois do Amor (do teu pela música)
E depois de nós
O Adeus
O ficarmos sós (sem ti! Até sempre, José Calvário)

Anónimo disse...

A melhor canção de sempre do festival... a melhor Voz.
Beijinhos.
MRF

PS: a mensagem de cima é minha. Esqueci-me de a assinar.

PJA disse...

Tive o fugaz prazer de conhecer pessoalmente o José Calvário, pois foi meu colega em Direito, curso que, creio, jamais concluiu, absorvido que estava sempre por uma intensa actividade musical. Quando ele tentou formar um grupo coral na nossa universidade, aderi, claro, com umas três dezenas de colegas, maioritariamente de Direito. Havia vozes excelentes e ainda cantámos juntos, no bar, lá em cima, entre os cadeirões e as asnas do telhado, alguma música americana que sabíamos de ouvido. O projecto morreu à nascença, porque, de facto, o José Calvário não tinha tempo, ocupado que andava, entre Lisboa e Londres, a preparar aquele álbum de música portuguesa com a Sinfónica. Era um entusiasta, simples, simpático, nada dado a este estilo parvo de intelectuais dos concursos que por aí campeia. Era, enfim, uma excelente pessoa, que os deuses chamaram mais cedo, porque são egoístas.
Resta a saudade e a música, que é eterna e mitiga um pouco aquele nó na garganta, mais apertado quando confirmamos que não podemos trocar as voltas ao destino.