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30 outubro 2012

A crise nas nossas vidas

A pensar como a crise pode aproximar mas também pode afastar as pessoas. É algo que sempre me assustou. Todos sabemos de famílias que eram unidas e que se separaram por causa de partilhas e de amigos muito próximos que se afastaram por causa da política. Como sempre fui particularmente sensível a essas questões, em pequena a cena da zanga entre o Ben-Hur e o Messala impressionava-me muito. Se eles eram amigos desde miúdos, como podiam zangar-se assim, por causa da política? Como é que uma tão grande amizade podia transformar-se em ódio mortal? Isso poderia acontecer comigo? Com a minha família? Com os meus amigos entre eles?

Nestes tempos difíceis temos de estar muito atentos aos sinais da discórdia. Uma palavra errada, uma observação menos sensível, uma piada de mau gosto pode ser o suficiente para desencadear uma discussão de limites mal definidos. E depois, nada a fazer. As palavras são como as pedras, uma vez atiradas, não voltam. Quanto aos actos, costuma dizer-se que ficam com quem os pratica mas as suas consequências podem estender-se muito para além, no espaço e no tempo.
Quando não está em causa a sobrevivência, é fácil lidar com o amigo que teve a sorte de nascer rico ou que arranjou um emprego melhor que o nosso. Ficamos até contentes por ele e pensamos que amanhã pode ser a nossa vez. Também é fácil manter amizade com o amigo que tem ideias políticas opostas às nossas mesmo que o partido dele esteja no governo. Discutem-se ideias com serenidade e acaba-se o serão com umas larachas. Mas quando o amigo conseguiu o emprego de que nós precisamos desesperadamente, quando ele defende políticas às quais (com ou sem razão, não importa) atribuímos os nossos problemas, torna-se muito difícil manter o distanciamento. Passada a crise (porque todas as crises passam) podemos ter perdido muito mais do que bens materiais.

Há que não perder a noção das prioridades e agora, mais do que nunca, a família e os amigos são o mais importante que temos.

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