29 novembro 2006
Dogosapiens
AGAPOV, Vladimir, n. 1953 - Dogosapiens
Imagem encontrada aqui e reproduzida com autorização do autor.
28 novembro 2006
A credibilidade da informação
«Não acredites em alguma coisa simplesmente porque a escutaste. Não acredites em tradições simplesmente porque provêm desde há muitas gerações. Não acredites em algo só porque é falado ou é motivo de rumor por muitos. Não acredites em algo simplesmente porque vem escrito nos teus livros religiosos. Não acredites em algo simplesmente porque é dito pelas tuas professoras ou anciãos. Mas, após observação e análise quando encontrares que algo vai de acordo com a razão e é conduzível à felicidade e benefício de uma só pessoa e de todas, então aceita e vive-o.»
Quem disse isto? Seria um bibliotecário? Seria um jornalista? Seria um cientista? Talvez Galileu? Newton? Einstein? Ou talvez Melvin Dewey?
Não. Foi Kalama Sutta, o Buda Shakyamuni (frase extraída do site da União Budista)
Quem disse isto? Seria um bibliotecário? Seria um jornalista? Seria um cientista? Talvez Galileu? Newton? Einstein? Ou talvez Melvin Dewey?
Não. Foi Kalama Sutta, o Buda Shakyamuni (frase extraída do site da União Budista)
27 novembro 2006
Mailling list
«— E tu, que tens feito, Jacinto?
«O meu amigo encolheu molemente os ombros. Vivera - cumprira com serenidade todas as funções, as que pertencem à matéria e as que pertencem ao espírito...
«— E acumulaste civilização, Jacinto! Santo Deus... Está tremendo, o 202!
«Ele espalhou em torno um olhar onde já não faiscava a antiga vivacidade:
«— Sim, há confortos... Mas falta muito! A humanidade ainda está mal apetrechada, Zé Fernandes... E a vida conserva resistências.
«Subitamente, a um canto, repicou a campainha do telefone. E enquanto o meu amigo, curvado sobre a placa, murmurava impaciente «Está lá? — Está lá?», examinei curiosamente, sobre a sua imensa mesa de trabalho, uma estranha e miúda legião de instrumentozinhos de níquel, de aço, de cobre, de ferro, com gumes, com argolas, com tenazes, com ganchos, com dentes, expressivos todos, de utilidades misteriosas. Tomei um que tentei manejar — e logo uma ponta malévola me picou um dedo. Nesse instante rompeu de outro canto um «tic-tic-tic» açodado, quase ansioso. Jacinto acudiu, com a face no telefone:
«— Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de papel que deve estar a correr.
«E, com efeito, de uma redoma de vidro posta numa coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente, escorria para o tapete, como uma ténia, a longa tira de papel com caracteres impressos, que eu, homem das serras, apanhei, maravilhado. A linha, traçada em azul, anunciava ao meu amigo Jacinto que a fragata russa Azoff entrara em Marselha com avaria!
«Já ele abandonara o telefone. Desejei saber, inquieto, se o prejudicava directamente aquela avaria da Azoff.
«— Da Azoff?... A avaria? A mim?... Não! É uma notícia.»
Obs.: Tinha-me esquecido de fazer a referência à fonte mas um leitor rapidamente identificou. Aqui fica a correcção: In: Queirós, Eça de - A Cidade e as Serras
«O meu amigo encolheu molemente os ombros. Vivera - cumprira com serenidade todas as funções, as que pertencem à matéria e as que pertencem ao espírito...
«— E acumulaste civilização, Jacinto! Santo Deus... Está tremendo, o 202!
«Ele espalhou em torno um olhar onde já não faiscava a antiga vivacidade:
«— Sim, há confortos... Mas falta muito! A humanidade ainda está mal apetrechada, Zé Fernandes... E a vida conserva resistências.
«Subitamente, a um canto, repicou a campainha do telefone. E enquanto o meu amigo, curvado sobre a placa, murmurava impaciente «Está lá? — Está lá?», examinei curiosamente, sobre a sua imensa mesa de trabalho, uma estranha e miúda legião de instrumentozinhos de níquel, de aço, de cobre, de ferro, com gumes, com argolas, com tenazes, com ganchos, com dentes, expressivos todos, de utilidades misteriosas. Tomei um que tentei manejar — e logo uma ponta malévola me picou um dedo. Nesse instante rompeu de outro canto um «tic-tic-tic» açodado, quase ansioso. Jacinto acudiu, com a face no telefone:
«— Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de papel que deve estar a correr.
«E, com efeito, de uma redoma de vidro posta numa coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente, escorria para o tapete, como uma ténia, a longa tira de papel com caracteres impressos, que eu, homem das serras, apanhei, maravilhado. A linha, traçada em azul, anunciava ao meu amigo Jacinto que a fragata russa Azoff entrara em Marselha com avaria!
«Já ele abandonara o telefone. Desejei saber, inquieto, se o prejudicava directamente aquela avaria da Azoff.
«— Da Azoff?... A avaria? A mim?... Não! É uma notícia.»
Obs.: Tinha-me esquecido de fazer a referência à fonte mas um leitor rapidamente identificou. Aqui fica a correcção: In: Queirós, Eça de - A Cidade e as Serras
23 novembro 2006
Uma questão de grau...
Este texto já é antigo (18 de Maio de 2005) mas, quando saíu em The chronicle of higher education, "A biblioteca de Jacinto" ainda não existia...
Os negritos são meus.
«If you're a Ph.D. in the humanities, do you need a master's degree in library and information science to pursue a career as an academic librarian or as a curator of special collections?
«That question has lately generated impassioned arguments among Ph.D.'s who seek to enter the field of librarianship, as well as among librarians and curators concerned over the integrity of their profession.
«My qualified answer is yes, the library-science credential is essential - unless the Ph.D. really, truly, and demonstrably has the equivalent experience. Before I elaborate, let me review my own background: I'm a Ph.D. in English who switched gears in the face of an abysmal faculty-job market, earned a master's in library science, and landed on my feet as an academic librarian at Yale University.
«Admittedly, Ph.D.'s who attend library school may or may not acquire such earth-shaking skills and wide-ranging theoretical knowledge as will justify the seemingly unreasonable outlay of time, effort, and expense required of one who has already endured the tribulations of a doctoral program. That is, at least in part, the motivation and justification for a new fellowship program and other recent initiatives that promise to set humanities Ph.D.'s on the fast (and free or low-cost) track to academic librarianship while bypassing most if not all library-school requirements.
«Still, the M.L.I.S., short for master's in library and information science (it's also known in some quarters as the M.L.S., for master's of library science), continues to serve as both a practical and an intellectual entreé into professional librarianship. What's more, the M.L.I.S. protects the library profession from becoming degraded in the way that teaching has been in academe.
[...]
«Equally damaging, hiring too many Ph.D.'s who skipped the M.L.I.S. training could create a glass ceiling for librarians who have that degree but no Ph.D. They would become (in status terms) the nurses to these doctors - even though this particular breed of doctors is not qualified to give orders to such nurses. In fact, the nurses would wind up teaching the doctors their jobs while still being held in lower esteem, a bitter irony that would force library morale down the tubes. And of course the library would then be run by those with the least experience in the profession.
«Irrespective of such potential dire consequences, we must consider the question of professional standards. What exactly have M.L.I.S.-trained librarians learned that those with Ph.D.'s haven't? Analytical, descriptive, physical, and textual bibliography. The history of books and printing. Issues in cataloging library materials. The book trade - current, rare, out of print, or all of those, including how best to manage vendors, approval plans, and standing orders. How to identify appropriate collecting levels for different subjects in different kinds and sizes of libraries. How to analyze a given library collection for purposes of, say, transfer to remote storage, filling in gaps, or preservation. How to analyze the pros and cons of a given electronic database or reference resource. How to manage acquisitions and other budgets. Digital library inititatives. The composition and scope of the essential bibliographic utilities like WorldCat, Eureka, and ESTC. How best to search any of the myriad electronic databases licensed by the modern library. What archivists do, how they do it, and why. You get the idea.
[...]
«Some Ph.D.'s who wish to be librarians doubtless have some of the training and experience necessary (particularly those who possess the aptitude to be librarians and are well-versed in bibliography), but they most certainly do not have enough of either to be taken seriously as library professionals. To argue that because you have spent years in libraries you are qualified to run one strikes me as claiming that because you have been visiting the dentist and brushing and flossing your teeth all your life you can perform a root canal.
«The creation of the profession of librarianship was an innovation of the late 19th century, by which point libraries had become too complicated to be run by dilettantes from academic departments. Hiring such people now to run our libraries - which are vastly more complicated than those that gave rise to our profession - sets us back over a hundred years. Indeed, the notion that we need professional librarians to run a modern library is even more valid today than it was in Melville Dewey's age.
[...]
«So while you might luck out and land one of those quirky plum jobs, if you hope to stay mobile in the library profession over the long term, you simply must earn the M.L.I.S.»
Todd Gilman é bibliotecário de Literatura em Língua Inglesa na Sterling Memorial Library da Yale University.
Os negritos são meus.
«If you're a Ph.D. in the humanities, do you need a master's degree in library and information science to pursue a career as an academic librarian or as a curator of special collections?
«That question has lately generated impassioned arguments among Ph.D.'s who seek to enter the field of librarianship, as well as among librarians and curators concerned over the integrity of their profession.
«My qualified answer is yes, the library-science credential is essential - unless the Ph.D. really, truly, and demonstrably has the equivalent experience. Before I elaborate, let me review my own background: I'm a Ph.D. in English who switched gears in the face of an abysmal faculty-job market, earned a master's in library science, and landed on my feet as an academic librarian at Yale University.
«Admittedly, Ph.D.'s who attend library school may or may not acquire such earth-shaking skills and wide-ranging theoretical knowledge as will justify the seemingly unreasonable outlay of time, effort, and expense required of one who has already endured the tribulations of a doctoral program. That is, at least in part, the motivation and justification for a new fellowship program and other recent initiatives that promise to set humanities Ph.D.'s on the fast (and free or low-cost) track to academic librarianship while bypassing most if not all library-school requirements.
«Still, the M.L.I.S., short for master's in library and information science (it's also known in some quarters as the M.L.S., for master's of library science), continues to serve as both a practical and an intellectual entreé into professional librarianship. What's more, the M.L.I.S. protects the library profession from becoming degraded in the way that teaching has been in academe.
[...]
«Equally damaging, hiring too many Ph.D.'s who skipped the M.L.I.S. training could create a glass ceiling for librarians who have that degree but no Ph.D. They would become (in status terms) the nurses to these doctors - even though this particular breed of doctors is not qualified to give orders to such nurses. In fact, the nurses would wind up teaching the doctors their jobs while still being held in lower esteem, a bitter irony that would force library morale down the tubes. And of course the library would then be run by those with the least experience in the profession.
«Irrespective of such potential dire consequences, we must consider the question of professional standards. What exactly have M.L.I.S.-trained librarians learned that those with Ph.D.'s haven't? Analytical, descriptive, physical, and textual bibliography. The history of books and printing. Issues in cataloging library materials. The book trade - current, rare, out of print, or all of those, including how best to manage vendors, approval plans, and standing orders. How to identify appropriate collecting levels for different subjects in different kinds and sizes of libraries. How to analyze a given library collection for purposes of, say, transfer to remote storage, filling in gaps, or preservation. How to analyze the pros and cons of a given electronic database or reference resource. How to manage acquisitions and other budgets. Digital library inititatives. The composition and scope of the essential bibliographic utilities like WorldCat, Eureka, and ESTC. How best to search any of the myriad electronic databases licensed by the modern library. What archivists do, how they do it, and why. You get the idea.
[...]
«Some Ph.D.'s who wish to be librarians doubtless have some of the training and experience necessary (particularly those who possess the aptitude to be librarians and are well-versed in bibliography), but they most certainly do not have enough of either to be taken seriously as library professionals. To argue that because you have spent years in libraries you are qualified to run one strikes me as claiming that because you have been visiting the dentist and brushing and flossing your teeth all your life you can perform a root canal.
«The creation of the profession of librarianship was an innovation of the late 19th century, by which point libraries had become too complicated to be run by dilettantes from academic departments. Hiring such people now to run our libraries - which are vastly more complicated than those that gave rise to our profession - sets us back over a hundred years. Indeed, the notion that we need professional librarians to run a modern library is even more valid today than it was in Melville Dewey's age.
[...]
«So while you might luck out and land one of those quirky plum jobs, if you hope to stay mobile in the library profession over the long term, you simply must earn the M.L.I.S.»
Todd Gilman é bibliotecário de Literatura em Língua Inglesa na Sterling Memorial Library da Yale University.
21 novembro 2006
16 novembro 2006
Grão a grão
Há muitos anos (muitos mesmo) li um ditado índio que nunca mais esqueci. Não me lembro das palavras exactas mas era qualquer coisa como isto: «A consciência é uma coisa com três cantos dentro do meu coração. Se eu ajo mal, ela move-se e os cantos magoam; se continuo a agir mal, os cantos gastam-se e deixam de doer.»
Vem esta memória a propósito de uma notícia que li num post do blogue "(Des)conversas em família", o qual me levou a um post do blogue "Conversas vadias". Depois conferi a informação numa notícia do ABC News e noutra do DN.
Referem-se todas estas fontes a uma decisão de um tribunal holandês que declarou a legitimidade de formação de um partido que pretende baixar a maioridade sexual para 12 anos, permitir que crianças desta idade possam actuar em filmes de carácter sexual e legalizar a detenção de material pornográfico em que essas crianças estejam envolvidas. Trata-se do PNVD, abreviatura neerlandesa para Amor Fraterno, Liberdade e Diversidade. Pretende também o PNVD que a televisão possa exibir pornografia a qualquer hora e que os jovens de 16 anos já possam exercer a prostituição. Baseiam-se estes "senhores" do PNVD numa lei holandesa que já considera as crianças com mais de 12 anos capazes de consentimento na questão da eutanásia.
Pois. É que, em 2002, a lei que despenalizava (esta palavrinha...) a eutanásia a doentes terminais foi estendida às crianças maiores de 12 anos, por se entender que, tal como os adultos, seriam capazes de produzir um consentimento informado.
Falta esclarecer que, na Holanda, desde 2000 que a eutanásia de adultos é permitida, desde que sejam capazes de decidir voluntariamente e de o solicitar por escrito.
Agora, no mesmo país (paraíso da liberdade individual) onde existe um partido pedófilo, cujo programa defende ainda que a nudez seja livre e que a instituição do casamento seja abolida, o Parlamento está a discutir o alargamento da despenalização da eutanásia a doentes que não sejam capazes de exprimir consentimento, como os doentes mentais e as crianças recém-nascidas.
Escusado será dizer que, na Holanda, o aborto a pedido é permitido até às 24 semanas (seis meses!) já há muitos anos. Mesmo que o pedido tenha apenas a ver com o sexo da criança ou com outro capricho qualquer.
Pois é. Por enquanto, 80% dos holandeses ainda considera que este partido deveria ser ilegal. Mas, pela teoria da evolução, os que nascerem a seguir (se os deixarem) já vêm sem cantos.
Vem esta memória a propósito de uma notícia que li num post do blogue "(Des)conversas em família", o qual me levou a um post do blogue "Conversas vadias". Depois conferi a informação numa notícia do ABC News e noutra do DN.
Referem-se todas estas fontes a uma decisão de um tribunal holandês que declarou a legitimidade de formação de um partido que pretende baixar a maioridade sexual para 12 anos, permitir que crianças desta idade possam actuar em filmes de carácter sexual e legalizar a detenção de material pornográfico em que essas crianças estejam envolvidas. Trata-se do PNVD, abreviatura neerlandesa para Amor Fraterno, Liberdade e Diversidade. Pretende também o PNVD que a televisão possa exibir pornografia a qualquer hora e que os jovens de 16 anos já possam exercer a prostituição. Baseiam-se estes "senhores" do PNVD numa lei holandesa que já considera as crianças com mais de 12 anos capazes de consentimento na questão da eutanásia.
Pois. É que, em 2002, a lei que despenalizava (esta palavrinha...) a eutanásia a doentes terminais foi estendida às crianças maiores de 12 anos, por se entender que, tal como os adultos, seriam capazes de produzir um consentimento informado.
Falta esclarecer que, na Holanda, desde 2000 que a eutanásia de adultos é permitida, desde que sejam capazes de decidir voluntariamente e de o solicitar por escrito.
Agora, no mesmo país (paraíso da liberdade individual) onde existe um partido pedófilo, cujo programa defende ainda que a nudez seja livre e que a instituição do casamento seja abolida, o Parlamento está a discutir o alargamento da despenalização da eutanásia a doentes que não sejam capazes de exprimir consentimento, como os doentes mentais e as crianças recém-nascidas.
Escusado será dizer que, na Holanda, o aborto a pedido é permitido até às 24 semanas (seis meses!) já há muitos anos. Mesmo que o pedido tenha apenas a ver com o sexo da criança ou com outro capricho qualquer.
Pois é. Por enquanto, 80% dos holandeses ainda considera que este partido deveria ser ilegal. Mas, pela teoria da evolução, os que nascerem a seguir (se os deixarem) já vêm sem cantos.
15 novembro 2006
Livre
Tenho saudades da Universidade Livre. Não sei se era do ambiente intelectual, em pleno Chiado perto das Belas Artes, da Brasileira e do São Carlos. Ou se era da localização, num autêntico miradouro sobre o Tejo. Da sala de aula podíamos avistar o rio e a ponte, os cacilheiros a desenharem na água um trajecto de vai-vem e o sol a pôr-se detrás do Cristo-Rei.
Talvez fosse do edifício do Século XIX, do bar no sótão - onde passei mais tempo do que nas aulas - com os vigamentos à vista e as janelas em água-furtada. Não sei se era dos amigos que aí fiz e que mantenho preciosamente. Ou talvez fosse dos 17 anos e eu tenha saudades dos 17 anos... Era de tudo no conjunto.
Fico lamechas quando me lembro da Livre. Livre. Até o nome é bonito. Ao pé de Livre, nomes como independente, autónoma ou seja lá o que for soam patéticos. Livre! Não pode haver nome mais belo para uma instituição que se dedica ao ensino e à propagação do saber. O saber é uma fonte de liberdade e a liberdade é condição para o saber. Pertenço a uma geração marcada pela palavra Liberdade. Crescemos a ouvir falar de Liberdade. Ouvimo-la da boca de toda a gente. Uns empunhavam-na como um machado de guerra, outros deitavam as mãos à cabeça e gritavam "libertinagem" como se fosse um exorcismo. Foi usada e abusada por todos. E nós, com sete, oito, nove anos, ouvíamos e não percebíamos. Mas a palavra foi entrando por osmose. Para nós não é uma palavra vã. Soa, ecoa, reverbera. Independentemente da cor política, independentemente do que somos hoje, mais ou menos aburguesados, com casas, carros, telemóveis, computadores e "nets", crescemos a ouvir que a Liberdade é o maior dos valores, crescemos a acreditar que a Liberdade é condição para a escolha, logo para a responsabilidade, e que tudo aquilo que formos, de bom, mau ou nem por isso, só faz sentido se o formos em Liberdade.
Talvez por isso esta palavra me diga tanto. E talvez por tudo isto eu sinta tanta nostalgia quando passo hoje na Vítor Cordon e olho para a placa dourada - que ainda lá está - a dizer Universidade Livre.
(Este texto foi escrito por mim, há vários anos, em outro site. Transcrevo-o aqui por causa de um contacto, que recebi, de um velho amigo, colega da Livre, que já não via há anos)
Talvez fosse do edifício do Século XIX, do bar no sótão - onde passei mais tempo do que nas aulas - com os vigamentos à vista e as janelas em água-furtada. Não sei se era dos amigos que aí fiz e que mantenho preciosamente. Ou talvez fosse dos 17 anos e eu tenha saudades dos 17 anos... Era de tudo no conjunto.
Fico lamechas quando me lembro da Livre. Livre. Até o nome é bonito. Ao pé de Livre, nomes como independente, autónoma ou seja lá o que for soam patéticos. Livre! Não pode haver nome mais belo para uma instituição que se dedica ao ensino e à propagação do saber. O saber é uma fonte de liberdade e a liberdade é condição para o saber. Pertenço a uma geração marcada pela palavra Liberdade. Crescemos a ouvir falar de Liberdade. Ouvimo-la da boca de toda a gente. Uns empunhavam-na como um machado de guerra, outros deitavam as mãos à cabeça e gritavam "libertinagem" como se fosse um exorcismo. Foi usada e abusada por todos. E nós, com sete, oito, nove anos, ouvíamos e não percebíamos. Mas a palavra foi entrando por osmose. Para nós não é uma palavra vã. Soa, ecoa, reverbera. Independentemente da cor política, independentemente do que somos hoje, mais ou menos aburguesados, com casas, carros, telemóveis, computadores e "nets", crescemos a ouvir que a Liberdade é o maior dos valores, crescemos a acreditar que a Liberdade é condição para a escolha, logo para a responsabilidade, e que tudo aquilo que formos, de bom, mau ou nem por isso, só faz sentido se o formos em Liberdade.
Talvez por isso esta palavra me diga tanto. E talvez por tudo isto eu sinta tanta nostalgia quando passo hoje na Vítor Cordon e olho para a placa dourada - que ainda lá está - a dizer Universidade Livre.
(Este texto foi escrito por mim, há vários anos, em outro site. Transcrevo-o aqui por causa de um contacto, que recebi, de um velho amigo, colega da Livre, que já não via há anos)
14 novembro 2006
Pensavam que era só cá, pensavam?...
Desculpem mas não me apetece traduzir e o italiano não é assim tão difícil... os destaques são meus. Tirado daqui
«Infermieri, centralinisti, archivisti, impiegati, [aggiungo bibliotecari] sono diventati tutti lavoratori co.co.co, a progetto, interinali, noleggiati a ore, esternalizzati. Lavoratori pagati trecento, cinquecento, o se sono fortunati, ottocento euro al mese. E senza avere diritto alle ferie, ai giorni di malattia, e neppure alla pensione. [...]. Solo nella Pubblica Amministrazione sono 350 mila gli esternalizzati.[...] Spesso questi precari sono i soci lavoratori delle centinaia di cooperative che forniscono infermieri, ausiliari, cuochi, personale delle pulizie e quello per l’amministrazione.
La legge Biagi aveva, tra le altre cose, l’intenzione di trasformare il lavoratore a contratto di collaborazione continuativa, il cosiddetto co.co.co, in un lavoratore con compiti più delineati e con più garanzie. Nasceva così il lavoro a progetto. La sua applicazione é stata però un fallimento, che in alcuni casi ha aumentato la precarietà e ha pure portato a un’ evasione del versamento dei contributi. Ufficialmente si esternalizzano i servizi per risparmiare.
Alla fine si scopre che se questi lavoratori fossero internalizzati si risparmierebbe in alcuni casi fino al 40 % . Alla fine il lavoratore esternalizzato costa di più, e ha meno diritti di prima. Ma allora chi ci guadagna?»
«Infermieri, centralinisti, archivisti, impiegati, [aggiungo bibliotecari] sono diventati tutti lavoratori co.co.co, a progetto, interinali, noleggiati a ore, esternalizzati. Lavoratori pagati trecento, cinquecento, o se sono fortunati, ottocento euro al mese. E senza avere diritto alle ferie, ai giorni di malattia, e neppure alla pensione. [...]. Solo nella Pubblica Amministrazione sono 350 mila gli esternalizzati.[...] Spesso questi precari sono i soci lavoratori delle centinaia di cooperative che forniscono infermieri, ausiliari, cuochi, personale delle pulizie e quello per l’amministrazione.
La legge Biagi aveva, tra le altre cose, l’intenzione di trasformare il lavoratore a contratto di collaborazione continuativa, il cosiddetto co.co.co, in un lavoratore con compiti più delineati e con più garanzie. Nasceva così il lavoro a progetto. La sua applicazione é stata però un fallimento, che in alcuni casi ha aumentato la precarietà e ha pure portato a un’ evasione del versamento dei contributi. Ufficialmente si esternalizzano i servizi per risparmiare.
Alla fine si scopre che se questi lavoratori fossero internalizzati si risparmierebbe in alcuni casi fino al 40 % . Alla fine il lavoratore esternalizzato costa di più, e ha meno diritti di prima. Ma allora chi ci guadagna?»
Efeméride pessoal e intransmissível
Faz hoje um ano. À hora a que escrevo já tinha passado. Literalmente. Já tinham passado a angústia, os suores frios, a sensação de querer enfiar-me por qualquer buraco, um qualquer. Já tinha passado.
A foto junta revela o instantâneo do momento em que tomei consciência (com cerca de duas horas de atraso) de que já era Mestra. Os olhos de carneiro-mal-morto devem-se a uma noite em claro e a algumas horas de tortura psicológica. O sorriso mongo deve-se à surpresa emergente. Normalmente não sou assim.
A foto junta revela o instantâneo do momento em que tomei consciência (com cerca de duas horas de atraso) de que já era Mestra. Os olhos de carneiro-mal-morto devem-se a uma noite em claro e a algumas horas de tortura psicológica. O sorriso mongo deve-se à surpresa emergente. Normalmente não sou assim.
08 novembro 2006
Como é feito um livro
Gostei deste filme divulgado no blog Biblioinfor do meu colega João Pedro Portugal. 8 minutos que passam muito depressa. A ver.
06 novembro 2006
O Perfumista
O meu colega (que eu não tenho o prazer de conhecer pessoalmente) bibliotecário da Biblioteca Municipal José Saramago, de Beja, Joaquim Mestre publicou há poucos meses um novo livro, o romance "O Perfumista". Joaquim Mestre já editou um livro de contos "O Livro do Esquecimento" e o romance "A Cega da Casa do Boiro".
«"O Perfumista" tem como pano de fundo a 1.ª Guerra Mundial, a Revolução Russa, as aparições de Fátima e a Pneumónica, passa-se no princípio do século XX e tem como cenário próximo o Alentejo, numa determinada região, entre Mértola e Alcoutim e conta a história de um homem que se apaixona por uma mulher. Não pelos seus olhos, não pelos seus cabelos, mas pelo seu odor, tal como contou à Voz da Planície o autor do livro. Um romance que aborda também o Alentejo na perspectiva do maravilhoso, do fantástico e do imaginário popular.»
No dia 9 de Novembro (quinta-feira), às 21h30, será feita uma apresentação deste romance, na Biblioteca Municipal de Espinho, pelo jornalista Sérgio Almeida.
Agradeço, desde já, a informação enviada pela minha colega Isabel Sousa. Apesar de "A biblioteca de Jacinto" não ser um blog de divulgação, aqui fica a informação, para quem estiver interessado. Eu não estarei lá mas, se pudesse, estaria.
«"O Perfumista" tem como pano de fundo a 1.ª Guerra Mundial, a Revolução Russa, as aparições de Fátima e a Pneumónica, passa-se no princípio do século XX e tem como cenário próximo o Alentejo, numa determinada região, entre Mértola e Alcoutim e conta a história de um homem que se apaixona por uma mulher. Não pelos seus olhos, não pelos seus cabelos, mas pelo seu odor, tal como contou à Voz da Planície o autor do livro. Um romance que aborda também o Alentejo na perspectiva do maravilhoso, do fantástico e do imaginário popular.»
No dia 9 de Novembro (quinta-feira), às 21h30, será feita uma apresentação deste romance, na Biblioteca Municipal de Espinho, pelo jornalista Sérgio Almeida.
Agradeço, desde já, a informação enviada pela minha colega Isabel Sousa. Apesar de "A biblioteca de Jacinto" não ser um blog de divulgação, aqui fica a informação, para quem estiver interessado. Eu não estarei lá mas, se pudesse, estaria.
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