Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

29 janeiro 2013

Exposição sobre Marcos Portugal: visita guiada, duplo lançamento e recital

Visita guiada à exposição | 17h00 | Entrada livre
Lançamento | 31 Janeiro | 18h00 | Auditório BNP



Duplo lançamento no último dia da exposição dedicada a Marcos Portugal na BNP, contará com breves apontamentos musicais de obras do autor por Ana Paula Russo, Mário Trilha e David Cranmer.


A anteceder as apresentações das duas obras - Marcos Portugal: uma reavaliação, coord. de David Cranmer e Marcos Portugal (1762-1830): 250 anos do nascimento, comiss. António Jorge Marques - pelos respectivos autores e Mário Vieira de Carvalho, será conduzida uma visita guiada à exposição por António Jorge Marques


Marcos Portugal (1762-1830): 250 anos do nascimento, António Jorge Marques (comiss.)

(...) As pesquisas realizadas nos últimos anos permitiram descobrir inúmeras fontes primárias, tanto musicais como biográficas, que vieram situar o compositor e a sua obra no contexto sociopolítico em que viveu, e atribuir-lhe um justo protagonismo. O presente catálogo incorpora uma parte significativa dessas fontes, e inclui a republicação fac-similada de três incontornáveis fontes bibliográficas de difícil acesso, além de textos que reflectem o actual estado do conhecimento sobre Marcos Portugal e uma detalhada cronologia.


Marcos Portugal, uma reavaliação, David Cranmer (coord.)

O presente volume reúne 26 capítulos sobre a vida e obra de Marcos António Portugal (1762-1830), o compositor luso-brasileiro que, em vida, obteve uma ainda não igualada ou ultrapassada projecção internacional. Num acto de estreita colaboração sobretudo entre especialistas portugueses e brasileiros, pretende expôr, desmitificar e reavaliar esta destacada figura, tantas vezes alvo de polémica. No cumprimento desta tarefa, para além de propôr um extenso texto biográfico devidamente fundamentado, debruça-se sobre um leque de temas, entre outros a recepção e disseminação internacional da sua produção teatral, aspectos de várias óperas individuais, a música ocasional profana, os contextos e popularidade de certas obras religiosas, as modinhas e a actividade didáctica do compositor, como Mestre de Suas Altezas Reais, os filhos de D. João VI e D. Carlota Joaquina.»


(Fonte: sítio da BNP)

Ensaios Abertos, do Grupo Vocal Arsis

A partir da próxima quinta-feira, 31 de Janeiro, e até Junho, nas últimas quintas-feiras de cada mês, pelas 21h00, o Grupo Vocal Arsis vai realizar Ensaios Abertos, na Fábrica Braço de Prata. Tratam-se de ensaios normais abertos ao público. Aqueles que já estão habituados à lides corais terão a oportunidade de contactar com o método de trabalho do nosso Maestro, o compositor Paulo Brandão. Os que nunca cantaram em coro terão a oportunidade de espreitar os bastidores da actividade coral, o trabalho por detrás do concerto. É uma experiência nova e desafiante para nós pois nem sempre é confortável para os coralistas expôr as suas fragilidades - habituados que estamos à apresentação em concerto onde é suposto que nada falhe ou que, a falhar, não se note... - mostrando ao público os erros, as repetições e as correcções que sempre ocorrem durante os ensaios. Por outro lado, creio que será gratificante mostrar todo o trabalho de aperfeiçoamento e apuramento que é necessário para chegar à apresentação em concerto. Espero ver-vos por lá, na quinta-feira.

"Chega de Saudade" de Tom Jobim e Vinícius de Moraes - por Paulinho da Viola

Dois génios do Século XX e um grande intérprete.


22 janeiro 2013

Este blogue viola os Termos de serviço do Blogger e está aberto apenas aos autores

O título deste post é estranho e reflecte a estranheza que sinto pelo que aconteceu com o blogue Dias que Voam da minha amiga virtual (que eu ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente) Teresa Guerreiro. Ao que parece, a Google terá recebido «uma queixa no âmbito dos Termos de Utilização relativamente à existência de código malicioso» no blogue.
Sendo o Dias que Voam um blogue simpático, de conteúdos interessantes e ambiente cordato e um dos meus blogues favoritos, espero que a Google corrija rapidamente este erro. Quero o Dias que Voam de volta, e é já.


19 janeiro 2013

24 horas de uma tempestade

Moro numa água-furtada virada ao Vale de Alcântara e vento é algo que já não estranho mas não me lembro de algo assim. A sequência de imagens de satélite que são mostradas na ligação abaixo mostram a chegada do "remoinho" ao continente, por volta das cinco da manhã, o que coindide com a hora a que acordei para já não conseguir dormir. Cheguei a pensar que as portas de vidro que ligam a cozinha ao terraço iriam rebentar, de tanto que abanavam. As imagens são eloquentes o quanto baste.

Imagens de satélite da tempestade

15 janeiro 2013

Ulisses a Nausícaa - David Mourão Ferreira

Não tinha sido fábula a saudade
de estar ao pé de mim sem estar comigo:
vejo-te agora em água, areia, carne,
se és o culto no sonho pressentido!

Cheiro de rocha a que não chega o mar,
por mais que o mar invente marés vivas…
Reconheço-te, ó palma tão sem par:
és a graça da terra ao céu erguida.

Pisas, ao caminhar, o próprio vento,
que se embuçou no manto de uma duna…
Desfazes sob os pés os grãos do tempo,

por do Tempo não teres noção nenhuma…
De que me serve ter vencido sempre,
se aqui me vence a tua juventude?

09 janeiro 2013

Sem cravos nas espingardas

É assustador pensar que estamos a afastar-nos vertiginosamente de uma saída não violenta para a nossa situação. A continuar no caminho proposto (ou imposto) pelos agiotas internacionais, Portugal, a Grécia, talvez outros países europeus, transformar-se-ão em breve em albânias miseráveis, cheias de pobres e vazias de esperança, com ruas esburacadas, a agricultura, a indústria e o comércio exangues, a saúde e a educação públicas de rastos, o mercado negro e a corrupção em níveis inimagináveis e alguns condomínios e resorts de luxo bem distantes da realidade da população (como convém ao Terceiro Mundo).
É assustador pensar que na fase seguinte (não sei quanto tempo depois) assistiremos (os que ficarem e sobreviverem) ao assassínio a eito de políticos e banqueiros, o terror nas ruas, a tomada do poder pela força - sabe-se lá por quem! - a instauração de um estado de sítio com limitação de direitos, liberdades e garantias, a nacionalização de bancos e empresas e a expropriação de fortunas cuja riqueza revertida a favor do Estado jamais será devolvida aos verdadeiros expoliados - nunca é! - o saque e, quem sabe, a guerra civil. Parece um cenário apocalíptico? Mas não é. Os tempos são outros, não há amanhãs que cantam, como há 40 anos. O 25 de Abril foi como um primeiro amor para uma geração virgem de Liberdade. Já não somos virgens. A próxima revolução não será feita por paixão mas por sobrevivência. A próxima revolução não terá cravos nas espingardas.

04 janeiro 2013

A Cidade de Ulisses - Teolinda Gersão

Um dos últimos livros que li em 2012 foi «A Cidade de Ulisses» de Teolinda Gersão. Li antes e depois várias críticas em blogues, que se debruçam sobre diferentes aspectos do romance, desde a relação edipiana de Paulo Vaz com o Pai até à crítica política - implícita e explícita - nas incursões que a autora faz pela História de Lisboa e de Portugal, mas, para mim, «A Cidade de Ulisses» é, antes de mais, um poema ao Amor. Depois de o acabar, as personagens ainda me acompanharam alguns dias, enquanto eu já lia outro romance.
«A Cidade de Ulisses» é, tão simplesmente, uma história de amor. Um homem e uma mulher conhecem-se e amam-se em Lisboa, sem dramas e sem arrebatamentos, amam-se porque sim e não há nada que explicar. É um amor feliz recordado na primeira pessoa pelo homem que o viveu e que escreve para a mulher que amou e, por duas vezes, perdeu. É uma história sobre a perda, sobre a oportunidade desperdiçada (a única que a vida nos dá) e, embora a palavra não ocorra, sobre a saudade.
Paulo Vaz é um artista plástico convidado a fazer uma exposição sobre Lisboa. Perante este convite, recorda Cecília, a mulher com quem vivera, durante quatro anos, o grande amor da sua vida. Nos anos oitenta, ele era professor e ela aluna. Apaixonaram-se sem saberem nada um sobre o outro, apenas porque trocaram o olhar durante as aulas. Amaram-se sem se conhecerem como Nausica amou Ulisses quando o viu, náufrago, atirado à praia. Durante esses quatro anos percorreram a Cidade de Ulisses, as suas ruas e vielas, os seus bairros e monumentos.
Um dia, um mal entendido, um gesto impensado, separa-os de forma irreconciliável e Cecília parte para sempre mas, no fim - não vou contar o fim - percebemos que esta separação física não representou uma verdadeira separação sentimental. Ainda que nunca mais se falem, ainda que nunca mais se vejam, o que há entre eles não acaba.
Quando ele percebe que a perdeu para sempre, Lisboa desaparece num terramoto simbólico. Desaparece porque ela a levou consigo ao partir e teceu-a de novo para ele devolvendo-a em dezenas de retalhos, os seus pequenos cadernos de apontamentos. Cecília é Nausica, que ama Ulisses sem o conhecer, mas é também Penélope, que tece uma tapeçaria ao longo de anos para ele: uma exposição sobre Lisboa. É isso que a liga a ele durante os mais de vinte anos de separação absoluta e lhe dá, como um fio de Ariane, um caminho de regresso ao passado feliz.
Há um ambiente trágico em todo o livro - ou não fosse permanentemente marcado pelo imaginário Grego - o sentimento de que a vida é permanentemente condicionada por factores que não controlamos e por gestos e decisões cujas consequências não podemos prever e nos ultrapassam inexoravelmente. O final feliz é mais o final possível do que o final desejado. O grande amor, aquele que parece único e irrepetível é, afinal, como disse Florbela Espanca, o mesmo amor de toda a gente.

LEIGHTON, Frederic - Nausica