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17 janeiro 2007

As razões da escolha VIII

Um dos chavões mais frequentes entre os defensores da legalização do aborto é de que «sou contra o aborto mas não imponho a minha opinião a ninguém». O Sim tem, sem dúvida, argumentos de peso mas este não é, certamente, um deles. Porque é completamente estapafúrdio.
O que quer dizer «sou contra o aborto»? Alguém é a favor? Aliás, o que é isso de ser "a favor" do aborto? Como é que se faz para se ser a favor do aborto? Anda-se a bater à portas, tipo Testemunhas de Jeová, a aliciar mulheres para fazerem abortos? Defende-se que se devem fazer x abortos por ano? Sugere-se às mulheres que engravidem de propósito só para fazer um aborto? «Faça um aborto. Vai ver que se sente logo melhor!». «Você não é a favor do aborto? Aceite fazer uma demonstração sem compromisso e logo verá que não quer outra coisa!». Fantástico, Melga!
Ser "a favor" do aborto não existe. Ninguém é a favor do aborto. Ser a favor do aborto é, no mínimo, psicopata.
Como sequência lógica, também não faz sentido o resto da frase «... não imponho a minha opinião a ninguém». Isso quer dizer que, quem diz isso, admite que haja quem seja "a favor" do aborto? Que quem aborta o faz por ser a favor do aborto?
De todos os argumentos tolos que tenho ouvido nesta polémica este é o mais absurdo de todos.

Estranhamente, é um argumento bem acolhido e frequentemente repetido devido a uma crescente cultura individualista, economicista e pragmática que se tem feito sentir nos últimos anos. «Não imponho a minha opinião a ninguém» soa bem, parece moderno, liberal, tolerante, tipo «todos diferentes, todos iguais». Mesmo que não queira dizer nada, fica bem. E é como o preto: não compromete. Hoje em dia ninguém se quer comprometer. Ninguém assume que tem um ideal e que quer fazê-lo valer. Lutar por ideais é uma coisa estética, romântica, antigamente usava-se imenso, as pessoas até iam presas por causa dos seus ideais; hoje não se usa. Hoje em dia ninguém vai preso por causa de ideais e isso torna os ideais pouco atraentes.
Este é um fenómeno muito mais amplo que tem (acho eu) a ver com a decadência ideológica posterior à queda do bloco de Leste. Uma decadência ideológica que conduziu a uma decadência ética.
Se a ausência de consciência moral é uma das características do psicopata, o que chamar a uma sociedade que perde a consciência moral?
Voltarei ao tema, numa abordagem mais abrangente, para além do aborto.

As razões da escolha VII. VI. V. IV. III. II. I.

1 comentário:

Alexandre disse...

Ai, Clara!

Vou precisar de fazer print de todos os posts para ler com atenção, mas é muito interessante, sim senhor, era algo deste tipo que pedi a várias pessoas mas ninguém me entregou...

Beijinhos. Até já!!!!!!