Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

27 setembro 2007

Aux Champs Elysées



Obrigada por todos os "parabéns".
Deixo-vos esta lembrança (muito bem lembrada pelo Gaspar). Joe Dassin e um delicioso momento da chanson française. Coisas do século passado (tal como eu), que o triturador "gosto único" das globalização cultural desfez em fiapos de memória.

24 setembro 2007

Repositório de Acesso Aberto sobre Documentação, Bibliotecas e Arquivos

A Paula Sequeiros pediu-me para divulgar o seguinte:

«A equipa europeia do E-LIS, Repositório de Acesso Aberto sobre Documentação, Bibliotecas e Arquivos, pretende fazer um levantamento da situação nacional no que toca a projectos já implementados ou a implementar muito brevemente no nosso país.
Como editora para Portugal, vou iniciar este trabalho a apresentar em Novembro em conferência Internacional em Valencia.

«Acontece que os directórios internacionais sobre repositórios apontam para poucos projectos portugueses e por vezes a informação aí lançada é escassa e/ou desactualizada. O tempo urge e muitas vezes os contactos não são fáceis.

«Eis a lista dos Repositórios registados em directórios:

«Biblioteca Nacional de Portugal(BNP) - Depósito de Dissertações e Teses Digitais (DiTeD)

«International Mathematical Union (Portugal) (IMU) - Portuguese Archive of Mathematics (PAM)

«Sociedade Portuguesade Vida Selvagem (SPVS) -
Wildrepositorium

«Universidade do Minho - Papadocs

«Universidade do Minho: RepositoriUM

«Repositório do ISCTE»

«Em primeiro lugar dirigido aos responsáveis pelos repositórios de qualquer área científica ou multidisciplinares para que a contactem no sentido de verem os seus projectos identificados e a figurar nesse levantamento mediante resposta a um breve inquérito. Os já identificados serão por ela contactados em breve para saber da sua disponibilidade em responder.»

19 setembro 2007

1º aniversário

Morgan, Frederick, 1847-1927 - O primeiro aniversário

Foi há um ano. Como o tempo passa! Pelo caminho ficaram 242 posts, «conversando um pouco, rindo muito» e novos amigos.

A biblioteca de Jacinto cumpriu a sua função e espero que continue a fazê-lo: na paz estirada das suas poltronas encontrem sempre os seus visitantes motivos para quererem voltar. Cá estarei - assim o queira o Eterno! - para os receber com «o livro, o charuto, o lápis das notas, a taça de café».

18 setembro 2007

Hipócritas!

Bruxelas está preocupada com a concorrência desleal.
Pasme-se! Bruxelas está preocupada com a concorrência desleal... da Microsoft!
Sim, eu li bem. Li duas vezes e li bem. A Microsoft faz concorrência desleal porque inova onde os outros não conseguem e porque oferece software. E isso é concorrência desleal.

A China não! Oni soit qui mal y pense...
Direitos laborais? Eles estão habituados a trabalhar 16 horas, sempre foi assim.
Trabalho infantil? Não interessa! Os putos chineses têm bom corpo para trabalhar.
A Europa tem de permanecer limpa dessas abominações, claro, em nome da sacrossanta «Civilização Ocidental». Agora, os outros não. Os outros não precisam disso. Sempre viveram assim, que diferença faz? Mais escravo menos escravo. Mais chinês menos chinês. Eles já são tantos!

Quem é que se interessa, no conforto dos sofás de Bruxelas, nos frescos gabinetes com ar condicionado, se todos os anos milhares de crianças de olhos em bico são roubadas à miséria das suas choupanas, em aldeias cujo nome ninguém consegue pronunciar, para serem lançadas à pazada (a forquilha podia danificar o material) em fábricas de brinquedos, de tecidos, de componentes eléctricos, de tapetes, de roupas, de sapatos... Isso interessa a quem?!? Na baiuca minguavam com meia tijela de arroz. Na fábrica minguam com uma tijela de arroz. Minguam menos.

Podiam, no entanto, estes senhores de Bruxelas, que comem números ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar (o que prova um fenómeno nutricional curioso: os numeros engordam!) podiam estes senhores de Bruxelas, estar preocupados com a concorrência desleal: menos direitos laborais, preços mais baixos, prejuízo para as empresas europeias. Podiam até estar preocupados com o controlo de qualidade, com as famosas normas europeias que espartilham o trabalho das nossas fábricas até à obsessão em nome da qualidade, da saúde pública, da segurança. Mas não. Os senhores de Bruxelas só se preocupam com a segurança dos produtos produzidos dentro da Europa.

Resumindo, podiam os senhores de Bruxelas - já que não se preocupam com os outros - estar ao menos preocupados com o bem estar, a prosperidade e a felicidade dos cidadãos europeus que lhes pagam os ordenados. Mas não. Aos senhores de Bruxelas isso não interessa para nada.
Há muito empresário europeu a quem convém que na China - e em outros países onde não se respeitam os direitos humanos, onde os salários (quando há salários) são despudoradamente baixos, onde os direitos laborais são inexistentes - a quem convém, dizia, que a situação se mantenha para poderem, precisamente, fazer lá (aos desgraçados que não têm onde caír mortos e a quem uma tijela de arroz é uma benção do céu) o que não podem fazer cá, aos europeus, porque Bruxelas não deixa, porque parece mal, porque isso não é civilizado. Na pior das hipóteses, por cá mandam-se umas famílias para o desemprego mas isso é o menos porque o Estado social não deixa ninguém morrer à fome.

A bem dizer, os senhores de Bruxelas estão-se nas tintas (tintas sem chumbo e certificadas por uma ISO qualquer, claro!) para a concorrência desleal. A bem dizer, a concorrência desleal é um pretexto desconchavado que eles inventam para enganar os papalvos.
Deviam cobrir-se de alcatrão e penas, estes senhores de Bruxelas.

«Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, fingidos! Tão cuidadosos em polir o copo por fora, enquanto que por dentro está todo sujo de roubos e de cobiça!»
(Mt. 23, 25-26)

07 setembro 2007

Nessun dorma!

Imagem tirada daqui.



Nessun dorma! nessun dorma!
Tu pure, o, principessa,
Nella tua fredda stanza,
Guardi le stelle
Che fremono d'amore
E di speranza.

Ma il mio mistero e chiuso in me,
Il nome mio nessun sapra!
No, no, sulla tua bocca lo diro
Quando la luce splendera!

Ed il mio bacio sciogliera il silenzio
Che ti fa mia!

(il nome suo nessun sapra!...
E noi dovrem, ahime, morir!)

Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vincero!
Vincero, vincero!

06 setembro 2007

A carta

Recebi uma carta das Finanças. Senti um aperto no estômago. Abri o envelope, com a chave do correio, enquanto subia ao meu 3º andar sem elevador. Não foi só a subida que me dificultou a respiração. Ainda não tinha entrado em casa, já respirava melhor: era o selo do carro.

Porque é que, sempre que recebo um carta das Finanças, sinto medo de qualquer coisa?
Porque é que naqueles segundos entre pegar na carta e ver o seu conteúdo prescruto mentalmente o meu passado tentando lembrar-me do que poderei ter esquecido de pagar, como alguém que, às portas da morte, revê toda a sua vida numa fracção de segundo?
Porque é que eu tenho sempre a sensação de que, no planeta fiscal, todos os habitantes, por mais cumpridores que sejam, são sempre culpados de alguma coisa?
Porque é que eu tenho a sensação de que as Finanças são as herdeiras directas da pide?
É mania minha? É peso na consciência? Devo revirar os meus papéis à procura do aviso não pago, da declaração esquecida, de algum pecado sem perdão que me vai custar o magro ordenado, a casa hipotecada e, quem sabe, a liberdade?
Serei só eu?...

05 setembro 2007

Banquetes de Platão II

«Nas tardes em que havia "banquete de Platão" (que assim denominávamos essas festas de trufas e ideias gerais)» (QUEIRÓS, Eça de - Civilização)

A que se segue é a segunda de uma série de receitas inventadas por mim. É que o Jacinto Galião também gosta de comer. Tal como na receita anterior, o peixe para esta receita deve ser pescado num elevador.

Começo por explicar que isto é uma paella um bocado aldrabada. Bocado é favor. É bastante aldrabada. Baseei-me na receita original da paella (que aprendi em Valência) mas, como não consigo seguir uma receita, modifiquei aqui e ali e o resultado, honestamente, não é uma paella, é mais um risotto de peixe na paellera. Perdoem-me os puristas mas, com um bisavô italiano e outro espanhol, eu só podia saír assim desalinhada...

RISOELLA DE PEIXE

Esta receita começou por se denominar Paella de peixe. Depois, decidi seguir a sugestão do meu amigo do Ars Coquinaria e mudei-lhe o nome, já depois da receita ter sido publicada. Não é muito ortodoxo alterar posts publicados mas quem faz um risotto numa paellera tem desculpa...

Azeite virgem
Alho
Tomate
Pimento verde
Açafrão da Mancha
Sal
Arroz
Peixe branco e carnudo (cherne, tamboril...)

Dou um violento murro no dente de alho (costuma ser inspirador pensar no nariz do meu pior inimigo) usando o lado de uma faca e frito-o no azeite que aqueci numa paellera (ou, na falta dela, numa frigideira grande). Deixo dourar bem mas, antes de começar a queimar, retiro para não amargar. A seguir, deito o tomate cortado em pedaços e frito-o bem. Isto é básico: a paella não leva refogado; a base é a fritura em azeite.

Por esta altura, junto o pimento cortado em tiras muito fininhas e completamente livre de sementes e da parte esbranquiçada da polpa (são as sementes e esta polpa esbranquiçada que o tornam indigesto, aprendi isto com o chef Vítor Sobral).

Deixo fritar muito bem.

Junto então o arroz e frito-o. A aldrabice começa aqui. Na receita original da paella não se frita o arroz. Mas eu frito. Entretanto, desfaço muito bem uns estames de açafrão (para uma caneca de arroz uso uma colher de chá de açafrão).

Para quem pensa que o açafrão só dá côr e que, para isso, não vale a pena comprar a especiaria mais cara do mundo, fica a informação: o açafrão genuíno dá um sabor e um aroma muito subtis mas persistentes e inconfundíveis. Faz toda a diferença mas, pela sua subtileza, é preferível não usar outras ervas.

Junto ao arroz água a ferver, até cobrir, e é nesta altura que deito o açafrão e tempero de sal.

A aldrabice continua aqui: a paella transforma-se numa espécie de risotto porque eu vou deitando água a ferver à medida que consome (e consome muito porque a paellera, como é larga, promove a evaporação).

Quase no fim da cozedura, com o arroz ainda bem ensopado, espalho o peixe cortado em cubos. O peixe coze depressa, mas é preciso estar com muita atenção porque o arroz também pega facilmente por causa da rápida perda de água. Nesta fase, o equilíbrio entre o tempo de cozedura do peixe e o grau de evaporação/secura do arroz é muito precário: se o arroz seca de mais, o peixe não tem tempo de cozer, se se deita mais água para o peixe cozer, o arroz fica demasiado "malandrinho" e isso não é suposto numa paella. Como não sou uma cozinheira experiente, às vezes a coisa não sai lá muito bem mas, quando sai bem, este prato fica uma delícia!

Bom apetite!