Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

25 janeiro 2008

Gerações

Este texto foi publicado por mim em Dezembro 2003, no blogue Bibliotecários sem Fronteiras.

Passados mais de quatro anos, depois do vendaval que têm sido as reformas de ensino "à bolonhesa" está mais actual ainda do que na altura em que o escrevi. Por isso, partilho-o de novo, com os visitantes da Biblioteca de Jacinto.

«Nos últimos tempos têm-se reformado várias bibliotecárias com quem aprendi muito do que sei. Senhoras da antiga geração que fizeram o curso no tempo em que disciplinas como o latim, a paleografia e a numismática eram consideradas essenciais. Pouco percebem de computadores e não têm hábitos de pesquisa na net. Vêm de tempos em que ser bibliotecário era sinónimo de ser culto, até erudito.

«Hoje não está na moda ser culto. Eu diria que parece mal. Falo contra a minha própria geração, claro, uma geração inculta na qual me incluo e cujos defeitos assumo. Uma geração que ainda foi a tempo de correr para se agarrar à última carruagem do combóio da tecnologia e saltar lá para dentro. Uma geração que acabou a licenciatura no tempo do DOS, que ainda passou os trabalhos da faculdade à máquina mas que teve a sorte de ser ainda suficientemente jovem para se adaptar a uma maquineta com que os miúdos de agora crescem em casa.

«Da geração a seguir à minha nem falo. O mundo deles é outro. Não sei como seria se tivesse a idade deles, provavelmente seria igual. Não cresci bombardeada com vinte e quatro horas diárias de televisão. No meu tempo havia a tele-escola durante a tarde, a partir das seis os desenhos animados e era uma festa conseguir ficar acordada para ainda ver a bandeira e ouvir o hino nacional quando a televisão pública (a única que havia) encerrava a emissão, por volta da meia-noite.
«Não havia macdonalds, as pizzas eram comida exótica e só conhecíamos o jogo da glória e a batalha naval.

«Não sou saudosista, mesmo nada. Gosto da época em que vivo, gosto de ter antibióticos, analgésicos e contraceptivos, gosto de ter telemóvel e carro, gosto de ter a Rússia, o Brasil e a Austrália à distância de um “clic”. Adoro a Internet e sinto-me absolutamente privilegiada por ter todas as facilidades com que os meus pais nunca sonharam sequer. Mas tenho pena que a minha geração, que ainda conheceu algumas das coisas boas que hoje se perderam, esteja completamente deslumbrada com este admirável mundo novo de reality shows, computadores e comida rápida, como se antes disto tivéssemos vivido na “Idade das Trevas”.

«A minha geração de bibliotecários e arquivistas vive deslumbrada com a tecnologia. Pesquisou nos catálogos manuais, roeu com os dedos as fichinhas de cartão nas gavetas da Biblioteca Nacional, tirou apontamentos até lhe doer a mão.
«Hoje prepara sofisticados instrumentos de pesquisa para os investigadores de hoje e do futuro. Que lindo!
«Acho bem. O que eu não acho mesmo nada bem é que tenham feito tábua rasa de tudo o que estava para trás e esqueçam que o conteúdo dos catálogos não é gerado pelos computadores tal como o leite não é produzido pelos pacotes “Tetra Pak”.

«Voltando às bibliotecárias reformadas.
«Estas senhoras levam com elas, para o sossego dos seus lares, para o afago dos seus netos, um conhecimento que já ninguém tem. Levam-no porque não têm a quem o deixar. Ninguém quer saber. A minha geração é superior a isso. Saber identificar um fragmento de um manuscrito? Não interessa para nada! Saber reconhecer um incunábulo escondido numa encadernação? Para quê?!? Conhecer a liturgia própria do tempo de Pentecostes? Isso só interessa aos padres!!!

«O que queremos é perceber de programação, de digitalização, os códigos todos, os campos e os sub-campos, o hipertexto, os protocolos de troca de dados, o XML ou o que vier depois.

«São semelhantes a um cozinheiro que se dedicasse a conhecer profundamente a tecnologia dos microondas, dos fornos eléctricos, das placas de indução, das batedeiras e dos frigoríficos no frost mas não soubesse cozinhar. Tem de saber usá-los? Claro. O conhecimento culinário é essencial para o desenvolvimento destas tecnologias? Sem dúvida. Estas tecnologias contribuem para o desenvolvimento da arte e da técnica culinária? Com certeza.
«Mas o cozinheiro tem de saber cozinhar, seja num microondas, seja num forno a lenha. O seu saber específico é a culinária, não é a tecnologia de microondas.

«Actualmente não conheço qualquer curso de Ciências Documentais em Portugal que ensine a catalogar um impresso do século 17. Há jovens bibliotecários que não sabem o que é um incunábulo, não querem saber e têm raiva de quem sabe. Latim, então, nem vê-lo. O grecus est non legitur dos escolásticos aplica-se perfeitamente aos actuais especialistas da informação, só que agora o que não se lê é o latim. Quanto à paleografia, existe em um ou dois cursos e está reservada aos que seguem arquivo como se os bibliotecários não precisassem desse conhecimento. História do Livro existe nos cursos mais antigos, é uma disciplina semestral, passada a correr, os nomes dos impressores e os locais onde se desenvolveu a tipografia percorridos como numa ladaínha, sem contexto, sem aplicação, como se fosse uma disciplina do passado que é preciso ter porque não se pode reformar o professor à pressa, coitado.

«Poderia alguém menos prevenido sugerir que, enfim, talvez já estivesse tudo inventariado, já estivesse tudo feito, já estivesse tudo estudado… mas não. Está TUDO por fazer! Há milhares e milhares de impressos antigos, códices e documentos arrumados para um canto em bibliotecas e arquivos e ninguém lhes toca porque ninguém sabe o que fazer com eles. São dois e não um os conhecimentos que se perdem: o conhecimento de como tratar esses documentos e o conhecimento que esses documentos contêm.

«O conhecimento necessário para tratar esses documentos está na mente, na cultura, na memória dessas senhoras que agora o levam consigo. São conhecimentos que se transmitem bouche-oreille, no paciente trabalho do dia a dia, no contacto com as espécies, no seu manuseamento, na consulta das obras de referência. Quanto conhecimento que não passa!
«Quem quer aprendê-lo na voragem destes dias tecnológicos?
«Quem o vai recuperar?
«À porta de quem vamos bater agora, quando não soubermos identificar o fragmento manuscrito?
«Quem vai responder, depois de uma breve e atenta observação: «Hum… isto é do Santoral. Esta frase aqui pertence à Antífona da Degolação de São João Baptista só que não tem o início. Veja no Liber Usualis, em Da mihi in disco… para confirmar».
«Quem vai continuar estes conhecimentos?

«Boas e queridas "bibliotecárias de cabelo apanhado e óculos na ponta do nariz": perdoem-nos!»

(17 Dezembro 2003)

14 comentários:

Anónimo disse...

Sem querer parecer mais "conspirativo" do que já sou, suponho que este estado de coisas interessa a alguém. Na época da "globalização" - termo imbecil que nada explica mas tudo justifica -, a ignorância deixou de ser a ausência de conhecimento para se tornar algo positivo (isto é, real, objectivo), instrumental para a própria "educação". A formação é feita na ignorância, a qual, portanto, tem conteúdo próprio substitutivo do conhecimento. Se esta construção estiver correcta, a ignorância será uma espécie de "conhecimento ao contrário", ocupando um espaço que já não poderá ceder ao conhecimento.
Parece diabólico,não?...
Mas é assim. Digo eu.

MCA disse...

Não é um dado assim tão novo. Talvez hoje seja mais difícil apontar responsáveis porque a democracia (formal) pulveriza responsabilidades. No passado, obrigavam-se as crianças a memorizar as linhas de combóio com todas as estações e apeadeiros. Algo tão ridículo como forçar as crianças de hoje a memorizarem todas as A, IP e IC os respectivos nós e áreas de serviço. Era uma forma de propaganda, claro. Ao banir do ensino a função "memória", deitou-se fora o menino com a água do banho.
Hoje a propaganda passa pelas chamadas "novas" tecnologias. Distribuir computadores e pôr o ênfase do ensino na tecnologia. Nada tenho contra a tecnologia (tal como não tenho contra as linhas de combóio e as autoestradas). O problema está na manipulação (intencional, sem dúvida) da opinião e das mentalidades. É muito mais fácil distribuir computadores pelas escolas do que resolver os milhares de problemas reais de exclusão, violência, racismo e desrespeito que assolam as mesmas escolas. E, claro, exibir uns cartazes com uns meninos "morangos com açúcar" com um ar muito louro e asseado.
Quanto à questão inicial, não sei quem é o "alguém" a quem isto interessa. Talvez seja antes "alguns" ou uma parte da sociedade. Tenho as minhas suspeitas mas não as divulgo. Em todo o caso, a minha pergunta de partida é sempre «quem beneficia?». É a pergunta que coloquei e continuo a colocar em todas as situações, desde o 11 de Setembro à estupidificação do ensino, passando pelos serviços públicos. Quem beneficia com o mau funcionamento do Serviço Nacional de Saúde?...
Quem beneficia com o insucesso escolar? Quem beneficia com a baixa de qualidade do ensino universitário? Quem beneficia com as licenciaturas (?) à bolonhesa? Quem beneficia com o esquecimento a que é votado o nosso património cultural?...

Anónimo disse...

Além de também ser bibliotecária ( ou profissional da informação, como hoje se usa), devo ser mais ou menos da sua geração e sinto exactamente isso. O "fast-food" chegou à biblioteca. E as pessoas nem se apercebem de que estão a perder a essência que é, afinal, seja em que suporte for, o conhecimento. A história do cozinheiro que não sabe cozinhar é a analogia perfeita.
Parabéns pelo texto e e pela coragem.

Paula Crespo disse...

«Hoje não está na moda ser culto».
Não poderia estar mais de acordo com esta afirmação. Aliás, já a tenho dito eu mesma, muitas vezes. Penso que isto entronca em questões mais vastas, como o caso de que, actualmente, tudo se quer rápido e fácil. "Rápido" e "fácil" são, portanto, as palavras de ordem para a sociedade actual. Portanto, tudo o que dá mais trabalho ou necessita de uma maior reflexão é riscado do mapa.
Entronca, também, na velha questão da falta de civismo que, por sua vez, está inserida num conceito mais abrangente, que é a "cidadania". Palavra bonita, muitas vezes proferida, mas poucas vezes utilizada. E isso vê-se a todos os níveis, claro, em todos os contextos.
Sinal dos tempo? Certamente. Mas será que a culpa é só do ensino? Penso que não, por maior que seja a sua fatia de responsabilidade neste problema. A educação começa em casa - não nos esqueçamos disso - e a sociedade não é um ente abstracto, mas sim oo conjunto de todos nós. Ou, como ironizava José Mário Branco na sua velha canção "a culpa é de todos; a culpa não é de ninguém". E a culpa, como diz o Povo, morreu solteira.
P.S.: tropecei neste bolgue mas gostei muito. Sinto muitas afinidades. Hei-de voltar...

APC disse...

Sem dúvida que a grande questão está na manipulação que se faz das novas tecnologias. estaremos a criar semi-autómatos? Acredito que sim.
Abraço, Clara

Leonor disse...

tem toda a razão, realmente não está na moda ser culto, não está na moda em bibliotecas ou arquivos fazerem-se "grandes" projectos de tratamento de fundos antigos, daqueles que bem feitos demoram mais tempo e sobretudo quando acabam se calhar t~em menos visibilidade que as bibliotecas e arquivos digitais.
há contudo que estabelecer um meio termo, ou arriscamo-nos a termos uma programação cultural manca, deficitária.
tb nos cabe a nós tentar fazer a diferença (acho eu)

Liliana F. Verde disse...

Não posso deixar de concordar. Mais ainda, não posso deixar de me sentir identificada com o que diz. Tenho metade da sua idade e sinto que sou já uma "vítima" da bandalheira em que vivemos. Quando estudava, os meninos e as meninas eram todos traumatizados... Traumatizados ficamos, agora, por sermos uns incultos!!! É triste, mas é a verdade. Estudei Literatura, Latim, Grego e piano. Era um "bicho" no meio da geração que viu surgir o "bué", que começou a fugir às cantinas da escola para ir ao McDonalds, que faltava às aulas por causa do Dragon Ball, que não sabe a tabuada e que detesta pegar num livro pelo simples prazer de ler e de saber o que se passa por esse mundo fora. Não tenho dúvidas de que sofremos, hoje, aquilo que fomos ontem.
Não posso deixar de admirar, com todo o espanto, quem ousou a "Ilíada", a "Odisseia", grande parte da "Bíblia" ou sabe escutar, em silêncio, uma boa orquestra. Se esta é a minha geração, como ela daqui a 20 anos?

Anónimo disse...

Parece-me que, na tua resposta, há uma confusão ligeira entre o problema do "ensinar" e o do "o que ensinar?".
Aprender linhas férreas não é o mesmo que saber quais são as áreas de serviço, mas é análogo a saber quais são as auto-estradas, embora, no actual contexto, seja discutível o interesse da matéria. Vejamos. O conhecimento dessas "curiosidades" inseria-se no estudo geral da Geografia Humana, acompanhado do estudo das capitais de distrito e de província, das produções agrícolas e agro-industriais e de muitas outras matérias de almanaque que, pura e simplesmente, apenas interessavam no tempo concreto, pois que eram mutáveis.
Em simultâneo, aprendia-se a leitura, a escrita, a aritmética, a história, enfim, o "básico" para iniciar a criança no mundo real. Este era um ensino de "igualdade de oportunidades", universal. A distinção vinha depois, porque, numa sociedade pobre e de desigualdades económicas, apenas uma minoria tinha acesso social (mas é apenas deste que falamos!) aos graus mais avançados de educação. Tudo isto estava em mudança no final de 60, início de 70, quando um grupo de Iluministas revolucionários tomou o Poder, proscrevendo a educação, com base na tradução tosca de doutrinas duvidosas. Depois... bem, depois é o que se vê. Será este um fenómeno nacional? Não, nem pensar. Cá, foi assim, mas a coisa já começara lá fora.
Quanto a saber quem ganha com isto, essa é matéria complexa que não vou abordar agora. Mas tenho a minha teoria muito bem elaborada...

MCA disse...

Imagino que sim...
Bom, quanto ao resto, insisto na imagem que dei anteriormente: deitou-se fora o menino com a água do banho. Embora já o Eça falasse da "espessa crosta de ignorância" com que se saía de Coimbra, o facto é que a crosta hoje é tão espessa que, escarafunchando, não se encontra por nada por baixo. A ignorância deixou de ser a crosta para se tornar o miolo...

Anónimo disse...

Olá Drª. Clara, em relação a este seu texto de 2003, que só li agora em 2007, permita-me o seguinte comentário: Será que é tão importante assim um "técnico superior BAD" saber o que é um incunábulo, quando muitos esperam e desesperam pela abertura de um concurso, que sai muito esporadicamente, quase a medo. Deixe que essas senhoras de cabelo apanhado e óculos na ponta do nariz se reformem, para abrir alas à fornada de novos técnicos superiores, que se formam às catadupas e que depois acabam por trabalhar sem o mínimo de condições, com contratos de trabalho a apinhar de cláusulas, muitos a recibos verdes, e a fazer todo o tipo de trabalho, de arquivos inclusive, menos exercer o que vem lá mencionado na categoria do recibinho de ordenado. Muitos acabam por fazer o trabalho que muitos técnicos profissionais não fazem, como tratar doações de fundos antigos carregadinhos de pó, que algumas alminhas guardavam lá na garagem ou na cave que decidiram remodelar, papelada que alguém não quis depositar na reciclagem e achou por bem, por estatuto, oferecer a uma biblioteca. E depois submetem-se a trabalhos tayloristas, pressionados a fazer horas extras não pagas, e exercer funções fora da sua competência, como servir de porteiros, de seguranças, de técnicos de fotocopiadoras, de telefonistas, de administrativos e até como vendedores call-center de cursos superiores. Tudo para quê? Para ter o prazer de chegar a casa, cansados, com os olhos vermelhos a pedir soro fisiológico e os eczemas nas mãos a pedir pomada. Apetece mandar tudo para os caracóis, mas...tem de se ganhar a vida não é verdade? Mas pronto...sempre se acaba o dia com satisfação, porque apesar de tudo, se cumpriu mais um dia nesta linda profissão, cujo fascínio pelos livros fala mais alto. Quanto ao facto de muitos não saberem o que é um incunábulo, não me parece que seja uma grande limitação, (muitos leitores nem sabem o que é um periódico, conhecem apenas o termo revista, e isso é que é preocupante), quando hoje em dia o mundo e o futuro pertence às novas tecnologias, quanto a isso nada há a fazer (os blogues são um espelho dessa tecnologia). Um prazer sempre visitar o seu espaço. Um bom ano (de preferência menos poeirento).

MCA disse...

E o pior é que eu tenho, frequentemente, a sensação de que os miúdos hoje são muito mais espertos do que nós éramos. Muito mais. Mais perspicazes, mais argumentativos, mais ágeis. A rede de relações sociais da geração que tem hoje menos de 25 anos é infinitamente superior à nossa e isso agiliza a mente de uma forma espantosa. Ao pé deles nós éramos uns tótós. No entanto, não aprendem nada de jeito, principalmente não aprendem a pensar. É um desperdício!
Com o fosso económico entre ricos e pobres a aumentar desmesuradamente e o consequente fosso entre os que estudam em boas escolas e os que são lançados à lixeira do ensino público, a prazo, dizia, o elitismo vai aumentar cada vez mais. E isso terá consequências dramáticas.

MCA disse...

José Coelho, há muito tempo que não o via por aqui. Bem vindo!
Concordo em parte consigo mas só em parte. Estamos a falar de questões diferentes. A questão laboral não está desligada da formação. Quando o José fez o seu curso de especialização, havia talvez uns 3 ou 4 cursos em Portugal. Neste momento já lhes perdi a conta. Estão a formar-se bibliotecários e arquivistas como quem enche chouriços para os lançar no desemprego porque as políticas culturais vão, precisamente, no sentido inverso ao crescimento de novos profissionais. Esse é um problema real. De resto, não há qualquer problema na renovação dos quadros. As pessoas têm de se reformar e deviam poder até reformar-se mais cedo (ao contrário da tendência actual). O problema é que a nova formação massificada, além de lançar os jovens no desemprego nem sequer os prepara devidamente. E a obsessão tola com a tecnologia está a criar a ideia nas pessoas (inclusive nos profissionais) que um informático faz melhor que nós o nosso trabalho. Ora, o José sabe tão bem como eu que isso não é verdade. Quanto às tecnologias serem o futuro... As tecnologias são ferramentas. Como o papel, o lápis, o stencil, o papel químico. Ferramentas. E essas mudam constantemente. Mas o nosso saber específico leva muito mais tempo a mudar. E quanto menos investirmos no conhecimento específico da nossa profissão e andarmos a perder tempo com áreas que são de outras profissões, mais lentamente ela evoluirá. Quanto aos nossos utilizadores, estão-se nas tintas para as ferramentas que usamos. O que eles querem é a informação disponível e pesquisável. E disso percebemos nós, não os informáticos.

Ana disse...

Dra. Clara, fui sua aluna, juntamente com o José Coelho e quero dizer que gostava das suas aulas e venho ler com alguma regularidade o seu blogue.
Não posso deixar de concordar com o José: hoje em dia é mais relevante para o meu desempenho enquanto bibliotecária no Centro de Documentação em que trabalho saber como criar uma biblioteca digital do que reconhecer um incunábulo. Julgo que muitos profissionais desta área sentirão o mesmo. Temos que nos render às evidências: a evolução tecnológica sempre conduziu a grandes revoluções na transmissão do conhecimento. Basta pensar em Gutenberg. Neste momento, novos desafios se abrem para nós. E muito aliciantes, devo acrescentar.
Ou eu não estaria aqui a comunicar consigo, no seu blogue! Também tenho, dois!:)
Até um destes dias, por aqui!
Ana Tarouca

MCA disse...

Ana, obrigada pela sua visita à Biblioteca de Jacinto. Tentei comentar no seu outro blogue (de que gostei muito) mas precisava de estar registada...
O que eu quero dizer com o meu texto é que tudo o que é de mais é erro. E não podemos andar todos a fazer as mesmas coisas. Os conhecimentos "tradicionais" relacionados com a erudição que os antigos bibliotecários possuíam, não deve perder-se só porque há uma nova moda. O conhecimento mais sólido não é efémero.
Um grande abraço para si. Fico sempre muito feliz quando vejo ex-alunos meus a seguirem a sua carreira profissional com entusiasmo. Pode parecer um lugar comum mas não é: acredite que é a melhor recompensa que eu posso ter.