contra o Acordo Ortográfico
(Ao abrigo do disposto nos Artigos n.ºs 52º da Constituição da República Portuguesa, 247º a 249º do Regimento da Assembleia da República, 1º nº. 1, 2º n.º 1, 4º, 5º 6º e seguintes, da Lei que regula o exercício do Direito de Petição)
Ex.mo Senhor Presidente da República Portuguesa
Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia da República Portuguesa
Ex.mo Senhor Primeiro-Ministro de Portugal
1 – O uso oral e escrito da língua portuguesa degradou-se a um ponto de aviltamento inaceitável, porque fere irremediavelmente a nossa identidade multissecular e o riquíssimo legado civilizacional e histórico que recebemos e nos cumpre transmitir aos vindouros. Por culpa dos que a falam e escrevem, em particular os meios de comunicação social; mas ao Estado incumbem as maiores responsabilidades porque desagregou o sistema educacional, hoje sem qualidade, nomeadamente impondo programas da disciplina de Português nos graus básico e secundário sem valor científico nem pedagógico e desprezando o valor da História.Se queremos um Portugal condigno no difícil mundo de hoje, impõe-se que para o seu desenvolvimento sob todos os aspectos se ponha termo a esta situação com a maior urgência e lucidez.
2 – A agravar esta situação, sob o falso pretexto pedagógico de que a simplificação e uniformização linguística favoreceriam o combate ao analfabetismo (o que é historicamente errado), e estreitariam os laços culturais (nada o demonstra), lançou-se o chamado Acordo Ortográfico, pretendendo impor uma reforma da maneira de escrever mal concebida, desconchavada, sem critério de rigor, e nas suas prescrições atentatória da essência da língua e do nosso modelo de cultura. Reforma não só desnecessária mas perniciosa e de custos financeiros não calculados. Quando o que se impunha era recompor essa herança e enriquecê-la, atendendo ao princípio da diversidade, um dos vectores da União Europeia.Lamenta-se que as entidades que assim se arrogam autoridade para manipular a língua (sem que para tal gozem de legitimidade ou tenham competência) não tenham ponderado cuidadosamente os pareceres científicos e técnicos, como, por exemplo, o do Prof. Óscar Lopes, e avancem atabalhoadamente sem consultar escritores, cientistas, historiadores e organizações de criação cultural e investigação científica. Não há uma instituição única que possa substituir-se a toda esta comunidade, e só ampla discussão pública poderia justificar a aprovação de orientações a sugerir aos povos de língua portuguesa.
3 – O Ministério da Educação, porque organiza os diferentes graus de ensino, adopta programas das matérias, forma os professores, não pode limitar-se a aceitar injunções sem legitimidade, baseadas em “acordos” mais do que contestáveis. Tem de assumir uma posição clara de respeito pelas correntes de pensamento que representam a continuidade de um património de tanto valor e para ele contribuam com o progresso da língua dentro dos padrões da lógica, da instrumentalidade e do bom gosto. Sem delongas deve repor o estudo da literatura portuguesa na sua dignidade formativa.O Ministério da Cultura pode facilitar os encontros de escritores, linguistas, historiadores e outros criadores de cultura, e o trabalho de reflexão crítica e construtiva no sentido da maior eficácia instrumental e do aperfeiçoamento formal.
4 – O texto do chamado Acordo sofre de inúmeras imprecisões, erros e ambiguidades – não tem condições para servir de base a qualquer proposta normativa.É inaceitável a supressão da acentuação, bem como das impropriamente chamadas consoantes “mudas” – muitas das quais se lêem ou têm valor etimológico indispensável à boa compreensão das palavras.Não faz sentido o carácter facultativo que no texto do Acordo se prevê em numerosos casos, gerando-se a confusão.Convém que se estudem regras claras para a integração das palavras de outras línguas dos PALOP, de Timor e de outras zonas do mundo onde se fala o Português, na grafia da língua portuguesa.A transcrição de palavras de outras línguas e a sua eventual adaptação ao português devem fazer-se segundo as normas científicas internacionais (caso do árabe, por exemplo).
Recusamos deixar-nos enredar em jogos de interesses, que nada leva a crer de proveito para a língua portuguesa. Para o desenvolvimento civilizacional por que os nossos povos anseiam é imperativa a formação de ampla base cultural (e não apenas a erradicação do analfabetismo), solidamente assente na herança que nos coube e construída segundo as linhas mestras do pensamento científico e dos valores da cidadania.
Os signatários,
Ana Isabel Buescu
António Emiliano
António Lobo Xavier
Eduardo Lourenço
Helena Buescu
Jorge Morais Barbosa
José Pacheco Pereira
José da Silva Peneda
Laura Bulger
Luís Fagundes Duarte
Maria Alzira Seixo
Mário Cláudio
Miguel Veiga
Paulo Teixeira Pinto
Raul Miguel Rosado Fernandes
Vasco Graça Moura
Vítor Manuel Aguiar e Silva
Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho
Zita Seabra
Quem quiser, pode assinar aqui. Eu já assinei.
7 comentários:
Eu também assinei.
"Eles" hão-de ganhar, claro, que "eles" ganham sempre... Mas vamos dar-"lhes" uma luta do caraças!
E na BdJ - escusado seria dizer - continuará a escrever-se em português como deve ser.
MCA:entãomas isto agora só tem dois posts?!??!
a aparecer?
E além disso existe uma mancha verde na parte lateral que deforma o estilo castanho e sóbrio deste blog,numa alusão a uma sociedade recreativa do bairro de alvalade?!???!
Vou deixar de vir aqui...
Também eu assinei a Petição contra o Acordo Ortográfico!
O desacordo ortográfico tem gerado alguma polémica na sociedade portuguesa. Não, não me enganei a escrever, quis dizer precisamente desacordo, pois, ao ver os escritores e linguistas do nosso país tão divididos pela chegada da nova ortografia, compreendi que a palavra a empregar não podia ser outra. De facto, os portugueses divergem grandemente na questão da língua, havendo argumentos a favor e contra a nova ortografia. Após vasculhar a Net em busca de informação acerca do acordo, deparei-me com vários sítios que discorrem sobre o tema com ardor. Para os interessados, destaco um manifesto que requer um prazo mais curto para que a nova norma seja posta em prática (http://movv.org/2008/05/14/acordo-ortografico-peticao-a-favor-de-reforma-mais-rapida/) e, por seu turno, uma petição que condena o acordo (http://www.ipetitions.com/petition/manifestolinguaportuguesa/).
Os defensores de uma norma que uniformiza a ortografia dos países que falam e redigem em português (ou será que deveria dizer portugues?) acreditam que o acordo aproximará os povos e facilitará a divulgação da língua em todo o mundo. Por outro lado, os cidadãos mais cépticos prevêem (ou preveem, conforme as opiniões) que a norma única dará azo ao facilistismo na escrita, suscitando a confusão generalizada no momento de corrigir os textos dos nossos estudantes.
Para além disso, os detractores do acordo apontam o interesse das editoras brasileiras numa ortografia comum, a qual lhes permitiria penetrar mais facilmente no mercado livresco dos PALOP. De acordo com os mesmos, este desejo mercantil, que pouco se relaciona com uma preocupação autêntica pela evolução e desenvolvimento da língua, esclarece as pressões do governo brasileiro sobre o nosso Executivo. De qualquer maneira, encontrando-se o acordo assinado pelo PR, resta saber se entrará em vigor dentro de um período de seis anos, como nos anunciam, ou se será novamente protelado, caso alguma dificuldade sobrevenha.
A meu ver, o acordo ortográfico peca por apresentar poucas mudanças dignas de provocar o tumulto a que temos assistido. Com a excepção da queda das consoantes que não se lêem (ou leem) e da inclusão das letras k, y e w no nosso alfabeto, os outros pontos aparentam uma grande insignificância. Pergunto-me se o Brasil se dá conta de que a sua proposta é pouco imaginativa, uma vez que incide sobre aspectos da língua que se corrigiriam espontaneamente com o passar do tempo. Da mesma forma que pharmacia evoluiu para farmácia e nocte para noite, creio que actual seguirá o mesmo caminho e tornar-se-á atual. Ao contrário de Teixeira de Pascoes, que temia que a língua se degradasse por meio das suas metamorfoses, exemplificando com a substituição da letra y (que continha a mística do termo) pelo i na palavra "abismo", o meu instinto leva-me a acreditar que a sua beleza permanecerá intacta.
Quanto ao desaparecimento dos acentos agudos e circunflexos, a questão complica-se. Ultrapassa-me a razão por que alguém se lembrou de suprimir a acentuação, que nos possibilita discernir o presente do passado (Nós pensamos em ti / Nós pensámos em ti) ou um verbo conjugado no imperativo de uma preposição que indica a direcção (Pára já com isso / Vamos para a praia). Perdoem a minha perplexidade, mas em algumas situações a acentuação revela-se indispensável, podendo alterar todo o significado de uma frase. Por isso, o acento circunflexo em "pôde" continuará a ser utilizado, não obstante as regras impostas pela norma que virá. Só posso concluir que se trata de uma inovação realizada pela mera necessidade de inovar, que não traz algo de útil para a evolução da língua, embora ostente a aparência de ser um gigantesco passo em frente.
Em suma, o acordo desaponta pelo facto de inovar tão pouco e pobremente, limitando-se a percorrer um caminho já trilhado milhares de vezes. Na qualidade de falantes da língua portuguesa, merecemos muito mais do que esta proposta nos oferece. Queremos uma evolução natural da língua, que só os povos podem realizar, e não aceitaremos algo diferente.
http://badigital.blogspot.com/
Jorge, muito obrigada pelo seu valioso contributo.
Vejam este texto de Vasco Graça Moura
http://dn.sapo.pt/2008/10/01/opiniao/nao_queremos_pura_e_simplesmente.html
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