Eu sou de Lisboa, alfacinha de gema. Tenho raizes rurais, como toda a gente, mas essas são muito antigas, não tenho contacto com elas. No entanto, os meus pais tiveram uma casa de campo onde passei férias e fins-de-semana entre os cinco e os dezasseis anos. Lá tinhamos um quintal bastante grande onde produzíamos tudo o que produz uma horta: batatas, cebolas, alhos, couves, alfaces, tomates, feijão verde (de trepar), feijão seco, nabos, nabiças, cenouras, ervas aromáticas... eu apanhava legumes para a sopa e para a salada, ajudava nas sementeiras e nas colheitas, lembro-me bem de como se preparavam os alfobres, como se transplantavam os rebentos para os canteiros, como se cortavam as batatas greladas para semear.
Tenho saudades desse tempo, sempre tive, mas a actual situação do país, a insegurança em relação ao futuro e a desmotivação que se vive na administração pública acentua essas saudades. Tanto mais quanto as férias que tenho passado a conhecer o nosso país, o cheiro das aldeias (continua o mesmo), da urze e da esteva, os campos cobertos de flores, o estrume misturado com feno, o tempo que nunca mais acaba, as vacas a pastar perto da estrada agitando os badalos, tudo isso me tem trazido uma vontade insaciável de voltar ao campo, de me entregar ao ritmo da natureza, às rotinas simples e sempre novas de dar o milho e a couve migada às galinhas, cuidar da horta, afagar o gato no alpendre enquanto vejo o pôr-do-sol, acender a lareira no Inverno embrulhada numa manta, cozinhar os meus próprios produtos (e eu gosto tanto de cozinhar!) num daqueles enormes fogões com cinco ou seis bicos, preparar as receitas de compotas e conservas que permanecem arrumadas na prateleira dos livros de cozinha à espera de uma oportunidade.
Por enquanto, tudo isto não passa de um sonho. Gostava de acordar um dia para o poder realizar.
3 comentários:
Eu já tenho um vaso com morangos.
É um começo...
Ena! Conseguiste...
Delirantemente poético, querida Maria Clara.
Beijinho.
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