As palavras andam a mudar de significado. É uma coisa estranha. Eu sei que isso acontece e faz parte da evolução natural da língua, mas nem sempre isso acontece naturalmente. Assistimos hoje a um fenómeno que não será novo mas tem sido recorrente nos últimos tempos.
Já notei, num texto anterior, como a palavra "sacrifício" está a ser utilizada num sentido inapropriado com a intenção subliminar de dar à palavra uma conotação de santidade, eliminando assim a carga negativa das privações e dificuldades que estão a ser impostas aos portugueses pelos políticos.
Mas não é caso único. Vejamos a palavra "coragem". Outra palavra com uma carga simbólica positiva, que associamos à bravura de D. Nuno Álvares Pereira ou à frontalidade de Humberto Delgado. O termo cai bem e mexe com valores muito enraizados que acarinhamos intimamente.
Acontece que também esta palavra está a ser aplicada ao conceito errado. Se não, vejamos: diz o senhor presidente da CIP que "há um conjunto de reformas que corajosamente têm de ser feitas". Bem sabemos quais são: despedimentos, redução de salários, a cassete do costume.
Independentemente de se concordar ou não com este senhor, coloco uma questão em relação à palavra que ele (e tantos outros) escolheu para adjectivar essas medidas: "corajosas".
Ora, eu aprendi algumas coisas quando era pequenina, coisas simples e básicas que os meus pais (cujo perfil moral irrepreensível me esforço por seguir) me ensinaram: não se mete as mãos no prato, não se cospe no chão, não se tira a borracha ao colega, não se mente para nos protegermos, não se bate nos meninos mais pequenos.
Bater nos pequeninos (coisa que nunca me passaria pela cabeça porque eu era sempre mais pequena do que os outros...) era apelidado de "cobardia" palavra que aprendi cedo.
Parece, porém, que estes senhores que mandam em nós (e não me refiro só aos que mandam de jure, mas também aos que mandam de facto) ensinam aos seus filhos que aquele menino lá da escola, alto e grandalhão, que bate nos pequeninos é... corajoso.
Já notei, num texto anterior, como a palavra "sacrifício" está a ser utilizada num sentido inapropriado com a intenção subliminar de dar à palavra uma conotação de santidade, eliminando assim a carga negativa das privações e dificuldades que estão a ser impostas aos portugueses pelos políticos.
Mas não é caso único. Vejamos a palavra "coragem". Outra palavra com uma carga simbólica positiva, que associamos à bravura de D. Nuno Álvares Pereira ou à frontalidade de Humberto Delgado. O termo cai bem e mexe com valores muito enraizados que acarinhamos intimamente.
Acontece que também esta palavra está a ser aplicada ao conceito errado. Se não, vejamos: diz o senhor presidente da CIP que "há um conjunto de reformas que corajosamente têm de ser feitas". Bem sabemos quais são: despedimentos, redução de salários, a cassete do costume.
Independentemente de se concordar ou não com este senhor, coloco uma questão em relação à palavra que ele (e tantos outros) escolheu para adjectivar essas medidas: "corajosas".
Ora, eu aprendi algumas coisas quando era pequenina, coisas simples e básicas que os meus pais (cujo perfil moral irrepreensível me esforço por seguir) me ensinaram: não se mete as mãos no prato, não se cospe no chão, não se tira a borracha ao colega, não se mente para nos protegermos, não se bate nos meninos mais pequenos.
Bater nos pequeninos (coisa que nunca me passaria pela cabeça porque eu era sempre mais pequena do que os outros...) era apelidado de "cobardia" palavra que aprendi cedo.
Parece, porém, que estes senhores que mandam em nós (e não me refiro só aos que mandam de jure, mas também aos que mandam de facto) ensinam aos seus filhos que aquele menino lá da escola, alto e grandalhão, que bate nos pequeninos é... corajoso.
5 comentários:
muito pertinente falar sobre os valores, nomeadamente o da "coragem"! no outro dia os meus alunos "de limite" consideraram corajosa uma colaga que esfaqueou outras 2 e as mandou para o hospital!
a mim isto dá-me muito que pensar mas pelos vistos a alguns directores de escolas não! mais uma vez... dá que pensar em quem anda a dirigir e neste caso os que "estão em campo" são de facto o "elo mais fraco" perante tantos "corajosos do sistema"!
Pois, isso só vem confirmar que as pessoas andam com os valores todos baralhados...
Concordo que se diga que as palavras estão a mudar de sentido e que a palavra "coragem" tem sido mal usada. Mas o exemplo é infeliz. Mais infeliz, considerando que o post é sobre o próprio exemplo, o que o eleva à categoria de paradigma.
O presidente da CIP, que eu não conheço e cujo nome só fiquei a saber quando li o que escreveste e fiz o link sugerido, apenas sugeriu (provavelmente, sem êxito) a extinção de institutos inúteis.
Caso não tenhas percebido, por alguma eventual distracção, nos últimos 30 e muitos anos, o Estado foi sugado por parasitas organizados que costumavam ter emprego na função pública, mas que, quando a coisa se tornou escandalosa e as entidades fiscalizadoras, mais as oposições de momento, mais a comunicação social começaram a censurar os seus gastos, passaram, discretamente, para institutos públicos, bem mais luxuosos do que as repartições de funcionários, com mordomias sem par, onde, longe de olhares plebeus, puderam montar um sistema que, pasme-se!, ainda dizem ser auto-sustentado, pois tem receitas próprias pelos serviços prestados. Prestados a quem...? Ao Estado, claro!
Ora, se o Estado não produz, pois só gasta, sendo toda a sua máquina e os seus recursos materiais e humanos suportados pela economia privada (os impostos da função pública são uma falácia, pois apenas consistem numa diminuição do rendimento dos funcionários, acrescendo absurdamente custos de cobrança), então haveria que cuidar de que o dinheiro dos impostos tivesse rigorosa gestão.
Nada disso. Gasta-se em consultores de consultores, em observatórios de observadores, em estudos, em promotores de actividades que apenas promovem a manutenção da própria promoção... enfim, é um fartote de gastos que não integram a administração directa do Estado, mas que, na verdade, são Estado para garantirem a sobrevivência, embora não sejam Estado para os tectos salariais.
Portanto, bater nos pequenos?!?
Só no teu conto de fadas.
No mundo real, a proposta do presidente da CIP é a de uma caçada às hienas.
Estou certo de que niguém lhe dará ouvidos.
O que me incomoda, já nem é o eles baterem-nos (tão corajosamente), mas sim o nós tão pacificamente, deixar-mos...
Trata-se do branqueamento das canalhices utilizando para o efeito a inversão dos significados das palavras. Orwell explicou muito bem como se efectua essa inversão no 1984. Gostei do seu blogue.
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