Com a devida vénia à autora, Madalena Homem Cardoso.
«O “corretor” lince que eu não quis instalar
Varreu o ecrã, ergueu-se a voar;
À roda do texto veio três vezes,
Roubou três letras a chiar,
E disse: «Quem ousa desafiar
As minhas razões que nem eu entendo,
Meu lápis invisível infecundo?»
E ao leme da tecla eu disse, tremendo:
«Séculos de Língua Portuguesa no Mundo!»
«De quem são as letras de que troço?
De quem o linguajar que leio e ouço?»
Disse o “corretor” lince, e arrotou três vezes,
Três vezes arrotou imundo e grosso.
«Quem vem escrever como não posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
Instalado no medo, mas do nada oriundo?»
E ao leme da tecla tremendo, eu disse:
«Séculos de Língua Portuguesa no Mundo!»
Três vezes do teclado as mãos ergui,
Três vezes ao leme de mim escrevi,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Tremo com fúria, sou mais do que eu:
O que este Povo escreve não é teu;
Mais que o raivoso lince que me a alma pisa
Mutilando palavras furibundo,
Mandam as raizes que erguem a divisa,
Séculos de Língua Portuguesa no Mundo!»
(Madalena Homem Cardoso, a partir de “O Mostrengo” de Fernando Pessoa”)
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2 comentários:
Declaro aberta a caça ao LINCE, sendo esta por tempo indeterminado e até à total extinsão da espécie, bem como a dos seus progenitores e demais apoiantes. Considerando os graves danos que podem ser rapidaemnte causados ao nível intelectual e de erudição de um vasto número de cidadãos portugueses, são permitidas desde já todas as "artes" de caça que levem ao rápido extermínio desta praga. Aqui se incluem inundar de mensagens de protesto os órgãos de comunicação social e instituições que decidam nutrir e dar guarida ao bicho, articular propositadamente as consoantes "mudas" na cara dos nossos opositores, desafiando-os a tratar a nossa pronúncia de "inculta", e obviamente assinar e promover a ILC.
Superior, magnífico este poema, ou não tivesse como "matriz" um original também superior de Pssoa.
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