2012 está a acabar. Foi um ano muito cheio mas que pouco partilhei convosco, visitantes desta vossa biblioteca. Já devem ter reparado que tenho tentado recuperar um pouco o hábito perdido de aqui escrever. O Facebook, com o seu imediatismo voraz, acabou por levar muitas vezes coisas que ficariam muito melhor aqui, onde todos podem entrar à vontade sem terem de pedir licença, sentar-se, tirar uns livros da prateleira e folheá-los a seu bel-prazer, na pacatez destas poltronas sempre prontas para vos receber. Mas estou de volta, espero. Recomecei a ler (ando novamente com um livro na mala, hábito havia muito perdido) e a escrever. Dizia-vos que este ano foi muito cheio mas vós não sabeis porquê. Foi cheio de acontecimentos e de emoções, quase todos relacionados com música, coisas que aconteceram por fora de mim mas, principalmente, coisas que aconteceram dentro de mim.
O Grupo Vocal Arsis participou num Festival Internacional de Canto Coral, em Barcelona, e todo o ano foi uma azáfama de preparativos: escolher repertório, conceber programas, organizar viagens, ensaiar, ensaiar, ensaiar... e, depois, lá em Barcelona, apresentar dois concertos diferentes - um sacro e um profano - e preparar intensivamente, em apenas cinco tardes de ensaios, o Requiem de Mozart para ser cantado no grande concerto final, no Palau de la Musica Catalana. Para mim, que não passo de uma amadora, foi a realização de um sonho de longos anos cuja emoção se prolongou por semanas depois do regresso. Não consigo explicar-vos a emoção! Cantar é, provavelmente, a coisa que eu mais gosto de fazer na vida. Nada me transporta a um tal estado de absoluta felicidade e é em coro que me sinto mais completamente feliz a fazer música. É como se eu fosse mais Eu quando deixo de contar como eu para só fazer sentido no Todo. É uma coisa quase religiosa que não se consegue explicar. Lembro-me como se fosse ontem, em pé no meio daqueles coralistas todos, aquela sala linda, o público na obscuridade, o Maestro, a orquestra e eu a pensar «isto está mesmo a acontecer, eu estou mesmo aqui e estou a realizar um sonho», a pensar no meu Pai a quem finalmente, fiz a minha homenagem... naquela noite, sem que ninguém soubesse, no silêncio do meu coração, foi para ele que cantei.
2012 foi, talvez, o ano mais musical da minha vida. Não tive férias. Todo o tempo de férias foi ocupado a fazer música. Em Agosto participei, pela primeira vez, numa Semana de Estudos Gregorianos, em Viseu. Sempre desejei participar destas semanas mas, por várias razões, nunca tinha tido oportunidade. Fiz o primeiro grau de Canto Gregoriano, em curso intensivo e o meu desejo, agora, é conseguir voltar em 2013.
Mas 2012 foi um ano de outras emoções. Participei, pela primeira vez na vida, numa manifestação, cantei o Acordai no meio de centenas de desconhecidos, em frente ao Palácio de Belém. Vi duas irmãs de meia-idade - que deveriam ter cerca de 20 anos em 1974 - abraçadas a chorar e a recordarem o Pai que teria orgulho em vê-las ali. Foi um momento de intimidade que violei involuntariamente mas que me comoveu até às lágrimas. Vi um País comatoso a mexer um dedo e a dar a esperança de que talvez ainda consiga acordar. Vi também a melhor música e a melhor poesia portuguesas a serem cantadas na rua, por pessoas que, se calhar, nunca tinham ouvido falar de Lopes Graça ou de José Gomes Ferreira. E vi a música, a boa música coral a saír à rua e a incendiar os corações.
2012 foi também um ano de conhecer as pessoas. Não digo apenas de conhecer novas pessoas mas de conhecer melhor as pessoas que já conhecia. Tive boas e más surpresas mas todas me fizeram conhecer-me melhor e conhecer melhor a natureza humana. Não lamento nenhumas.
Enfim, talvez tivesse mais para dizer, tenho com certeza, mas este é o meu balanço, hoje, de 2012. E uma promessa de regresso, em 2013, à biblioteca de Jacinto, com mais frequência, para vos receber com um livro, uma música ou uma imagem, com uma ideia ou uma recordação.
Voltem sempre.
O Grupo Vocal Arsis participou num Festival Internacional de Canto Coral, em Barcelona, e todo o ano foi uma azáfama de preparativos: escolher repertório, conceber programas, organizar viagens, ensaiar, ensaiar, ensaiar... e, depois, lá em Barcelona, apresentar dois concertos diferentes - um sacro e um profano - e preparar intensivamente, em apenas cinco tardes de ensaios, o Requiem de Mozart para ser cantado no grande concerto final, no Palau de la Musica Catalana. Para mim, que não passo de uma amadora, foi a realização de um sonho de longos anos cuja emoção se prolongou por semanas depois do regresso. Não consigo explicar-vos a emoção! Cantar é, provavelmente, a coisa que eu mais gosto de fazer na vida. Nada me transporta a um tal estado de absoluta felicidade e é em coro que me sinto mais completamente feliz a fazer música. É como se eu fosse mais Eu quando deixo de contar como eu para só fazer sentido no Todo. É uma coisa quase religiosa que não se consegue explicar. Lembro-me como se fosse ontem, em pé no meio daqueles coralistas todos, aquela sala linda, o público na obscuridade, o Maestro, a orquestra e eu a pensar «isto está mesmo a acontecer, eu estou mesmo aqui e estou a realizar um sonho», a pensar no meu Pai a quem finalmente, fiz a minha homenagem... naquela noite, sem que ninguém soubesse, no silêncio do meu coração, foi para ele que cantei.
2012 foi, talvez, o ano mais musical da minha vida. Não tive férias. Todo o tempo de férias foi ocupado a fazer música. Em Agosto participei, pela primeira vez, numa Semana de Estudos Gregorianos, em Viseu. Sempre desejei participar destas semanas mas, por várias razões, nunca tinha tido oportunidade. Fiz o primeiro grau de Canto Gregoriano, em curso intensivo e o meu desejo, agora, é conseguir voltar em 2013.
Mas 2012 foi um ano de outras emoções. Participei, pela primeira vez na vida, numa manifestação, cantei o Acordai no meio de centenas de desconhecidos, em frente ao Palácio de Belém. Vi duas irmãs de meia-idade - que deveriam ter cerca de 20 anos em 1974 - abraçadas a chorar e a recordarem o Pai que teria orgulho em vê-las ali. Foi um momento de intimidade que violei involuntariamente mas que me comoveu até às lágrimas. Vi um País comatoso a mexer um dedo e a dar a esperança de que talvez ainda consiga acordar. Vi também a melhor música e a melhor poesia portuguesas a serem cantadas na rua, por pessoas que, se calhar, nunca tinham ouvido falar de Lopes Graça ou de José Gomes Ferreira. E vi a música, a boa música coral a saír à rua e a incendiar os corações.
2012 foi também um ano de conhecer as pessoas. Não digo apenas de conhecer novas pessoas mas de conhecer melhor as pessoas que já conhecia. Tive boas e más surpresas mas todas me fizeram conhecer-me melhor e conhecer melhor a natureza humana. Não lamento nenhumas.
Enfim, talvez tivesse mais para dizer, tenho com certeza, mas este é o meu balanço, hoje, de 2012. E uma promessa de regresso, em 2013, à biblioteca de Jacinto, com mais frequência, para vos receber com um livro, uma música ou uma imagem, com uma ideia ou uma recordação.
Voltem sempre.