Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

09 setembro 2015

A gargalhada

«A unica critica é a gargalhada! Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem uma idéia, nem um sentimento, nem uma critica: nem é o desdém, nem é a indignação; nem julga, nem repelle, nem pensa; não cria nada, destroe tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único inventario do mundo político em Portugal. Um Governo decreta? gargalhada. Falla? Gargalhada. Reprime? gargalhada. Cae? gargalhada. E sempre esta politica, aqui, ou pensando ou creando, ou liberal ou oppressiva, terá em redor d’ella, diante d’ella, sobre ella, envolvendo-a, como a palpitação d’azas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, cruel, implacavel – a gargalhada! Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, ensina, discute, oprime – nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça.»

Eça de Queirós In: As farpas: chronica mensal da política das letras e dos costumes. Julho de 1871 / Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz. Lisboa: Typographia Universal, 1871)

Sem comentários: