Recentemente, comprei num alfarrabista - daqueles que costumam estar ao fim-de-semana nas Amoreiras - um livro intitulado «Fátima desmascarada». O autor é João Ilharco, um senhor que escreveu poemas, livros escolares de aritmética e gramática para o ensino primário e, pelo menos, um romance. Penso que já morreu ou deve ser muito idoso pois o seu primeiro título é de 1923. Este livro foi editado pelo autor em 1971, com algumas reedições e depois desapareceu. Parece, não sei se é verdade, que a "pide" o apreendeu. O facto é que nunca mais foi publicado e agora só se encontra em alfarrabistas.
O livro é muito interessante, li-o todo no mesmo dia, apesar das quase 300 páginas. Não está em causa a minha opinião sobre o livro nem se acredito nas aparições, não é disso que quero falar.
Quero falar de plágio. Ao fazer uma pesquisa na net, sob o título do livro, deparei com um blogue contendo três posts precisamente com esse título: «Fátima desmascarada», «Fátima desmascarada II» e «Fátima desmascarada III».
Como a leitura do livro estava bem fresca - tinha-o lido todo na véspera - o conteúdo dos posts soou-me familiar. Reproduziam ipsis verbis parágrafos inteiros do livro de João Ilharco mas sem fazer qualquer referência à fonte. E, para cúmulo, punham na boca do Prof. Moisés Espírito Santo, num suposto diálogo tido com o autor do blogue, frases retiradas, também ipsis verbis, do mesmo livro. Não sei se o Prof. Moisés Espírito Santo sabe disto mas, certamente, se soubesse não iria ficar contente.
Confesso que fiquei bastante incomodada. Irritada mesmo. Não é nada comigo, não fui eu a plagiada, mas o plágio, o acto em si mesmo, causa-me uma enorme perturbação.
Fiz um comentário (assinado Campos Elísios 202) em cada um dos posts, demonstrando ao autor o meu desagrado. Ele apagou os comentários. Insisti, pedindo-lhe que mencionasse a fonte dos textos dele. Ele voltou a apagar. Desisti.
Mais recentemente verifiquei que "escreveu" mais um post sobre o assunto. Já vai no "Fátima desmascarada IV".
Será que autor daquele blog não podia mencionar a fonte? Precisa de roubar aqueles textos - a um homem que, provavelmente, já morreu e não pode reclamar o seu trabalho - para se afirmar? O que é que ganha?
Mais uma vez, não consigo perceber o mecanismo mental do plágio. Haverá estudos psiquiátricos sobre o fenómeno?
Dar uma espreitadela a O plágio (20 setembro 2006)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
eu não tinha qq pejo em dizer o nome do blogue é o "Filho de um Deus menor"
houve uma altura que me divertia de ir blogue em blogue a desmascarar os plágios.
ao início só dizia que tal texto fora plagiado.
respondiam sempre que estava levantar uma grande calúnia.
depois prova-a e eles ou apagavam o comentário ou ignoravam e ficavam sem pio.
Sobretudo plágio de inglês/espanhol/francês/brasileiro para português.
mas isso até pessoal da nossa área (libraries, informação) com blogues de outros temas (politica, artes, etc), farta-se de plagiar. Conheço muitos casos
mas para mim o blogue rei dos plágios é a “A Grande Fábrica”, Já está melhor mas antes era produção em massa (+- 10 posts por dia plagiados). Eu chamava-lhe a “A Grande Fábrica do Plágios”
Mas o mais incrível disto tudo é que muito desses blogues tem dezenas de comments por post e ninguém descobre ou quer saber. Não lhes interessa!
Mas plágio não é só texto, as fotos, vídeos têm a mesma importância. Os bloggers e afins não citam fontes porque esteticamente tira o style ao post.
E já encontrei meus textos e fotos plagiadas.
mas uma coisa é certa para quem quer publicar muito na net é sempre algo complicado. É preciso nunca cair na tentação.
Até pessoas mais conhecidas
http://uminuto.blogspot.com/2006/01/plgio-shehe-wrote.html
queria dizer "Filhos de um Deus menor" a obra do Mark Medoff.
E depois ainda existe a questão do "fair use" que na União Europeia não é aceite, apesar de ser muito comum nas nações da Península Ibérica.
Já recursos como a Wikipédia (versão Língua Portuguesa) proibem o fair use.
eu devo ser visto como um mega fair user
Filhos de um Deus menor, com link fica melhor. E eu meteria no post. Mais cedo ou mais tarde vai ficar registado nos motores de busca.
Não se devia esconder atrás dos "campos Elísios 22". Qual era o receio???
Tal como "Paulo Sempre", "campos_elísios_202" é apenas uma assinatura que uso há muito tempo. É também um dos meus endereços de e-mail. No seu blog usei-a porque V. tinha a possibilidade de manter as mensagens, responder ou apagá-las (como, aliás, fez). Não é o mesmo que criar um blog anónimo (como fizeram os "acusadores" do MST) e fazer acusações sem que o visado tenha qualquer hipótese de se defender. Além disso, tive o cuidado de, ao colocar a menção no meu blog, fazer o link para o seu de forma a que V. soubesse que estava a ser denunciado. Eu não atropelo a ética conforme as minhas conveniências.
Em Fátima, uma senhora
Enganou três pastorinhos,
C’uma voz sedutora,
Ameaças e adivinhos.
Disse que era mãe de Cristo,
Mas não era Israelita.
Ora vejam bem, só isto:
Que coisa tão esquisita.
Se Judia fosse ela,
Que adorasse a DEUS Javé,
Não pediria CAPELA,
Porque ABOMINAÇÃO é.
Em Israel quem se preze,
Tal coisa não pediria,
Que mais cheira a catequese,
Que voz da Virgem Maria!
E nem pensou a senhora,
Que seria descoberta,
Dessa farsa enganadora;
Não foi assim tão esperta!
Mas há muitos insensatos
Que se deixam enganar;
A cair que nem uns patos,
Sempre, sempre sem cessar!
Peregrinos a sofrer
Enchem os bolsos do clero;
E só lhes resta morrer
Em desespero sincero.
-----\\||//-----
Os PAPAS em bebedeira,
Querem-nos impingir isto:
Única e Verdadeira,
Como «Igreja de Cristo».
A «igreja» é uma trapalhada,
Dos «padres», uns intrujões;
Clero, conversa fiada
E os «abades» uns glutões.
Uma Igreja imaculada, (Ef.5,27)
Cristo disse que fundava,
Diferente desta alhada;
Era isto o que eu pensava.
A «ROMANA» padralhada,
Cozinhou-a ao seu sabor,
'Té parece uma piada
De sofrimento e dor.
É o «reino dos céus» do clero
A enganar o pobrezito,
C'um «vale de lágrimas» vero,
C'um tormento infinito.
Ó Cristo, vem cá à terra,
Tirar esta confusão;
Matar a «besta» que ferra; (Ap,19)
Mostra-lhe a Tua missão.
Encontrei hoje este blogue por acaso e por acaso vim dar com a referência a João Ilharco e ao facto de ter sido plagiado.
João Ilharco foi meu avô e já morreu há cerca de 30 anos, sem saber o qque era a Internet, era eu novinha e a saber vagamente que ele tinha "uns escritos".
Obrigada pela atenção que teve, não há muita genye assim.
Plagiar é muito, muito feio.
Maria João, obrigada pelo seu comentário e prazer em conhecê-la. Pode bem orgulhar-se do seu avô.
Enviar um comentário