Morreu o maestro José Calvário. Muito cedo, cedo de mais, com apenas 58 anos. Nascido em 1951, tinha apenas 23 anos quando compôs a mais emblemática e (para mim) a melhor canção de sempre do festival da canção: E depois do adeus.
José Calvário era, talvez, o mais jovem de uma linhagem de maestros dedicados, totalmente ou em parte, à composição de música ligeira. Linhagem de que fizeram parte Alves Coelho, Raúl Portela, Raúl Ferrão, Armando Leça, Belo Marques, Cruz e Sousa, Frederico de Freitas, Tavares Belo, Nóbrega e Sousa, Frederico Valério, Shegundo Galarza, Jorge Costa Pinto e Pedro Osório (estes dois ainda vivos), entre muitos outros.
A música ligeira já não é o que era e - salvo aqueles casos (que, felizmente, nem são assim tão poucos) em que um elevado talento musical consegue suprir a ausência de formação teórica - predomina, desde os anos 80, o "compositor de assobio" assoprado para o gravador e arranhado na viola ou no teclado, o solidó de sempre ajudado pelos efeitos especiais da electrónica. Do tão vituperiado nacional cançonetismo, desceu-se à música pimba e, talvez pior, às imitações da pop britânica e americana.
Não sei, presentemente, quem serão os herdeiros desta linhagem que Calvário abandonou tão cedo. O fenómeno não é apenas português: a canção italiana e a francesa desapareceram da rádio e, se ainda existem, não conseguem romper a malha apertada das grandes editoras, controladas pelos mesmos grupos económicos que controlam as rádios e as televisões e que, em todo o mundo, forjam sucessos com a mesma indiferença com que destroem sonhos.
Não sei como será, depois deste adeus.