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24 fevereiro 2014

Há seis anos

Neste dia, há seis anos, vi o meu Pai pela última vez. Nem eu nem ele imaginávamos que era a última vez. No dia seguinte ele já não acordou e eu também não, porque nessa noite não dormi. O Sol nasceu como todos os dias, era segunda-feira e as filas formaram-se à entrada de Lisboa, como todos os dias, milhões de pessoas levantaram-se para ir trabalhar como todos os dias, as lojas abriram, as ruas encheram-se de gente, nasceram crianças, apaixonados viram-se pela primeira vez, namorados desentenderam-se, casais divorciaram-se, houve quem começasse nesse dia um novo emprego ou se despedisse para começar uma nova vida noutro lado. As ameixoeiras começaram a dar flôr nesse dia, os pássaros reuniram-se a chilrear, nos ramos das árvores, às cinco tarde como nos outros dias, a vida seguiu o seu curso normal sem que ninguém percebesse que havia menos uma pessoa nessa azáfama diária. Há seis anos, no dia de hoje, estive com o meu Pai pela última vez. Quando compreendi que não voltaria a vê-lo tentei visualizar os próximos dez, vinte, trinta anos, talvez mais até e tentei visualizar esses anos todos sem ele. Outro tanto tempo que já tinha vivido. Metade da minha vida. Toda uma história por partilhar. Todas as coisas de que não falava com mais ninguém ou que não falava da mesma maneira. Há seis anos, neste dia, falei com o meu Pai pela última vez. Conversas que não acabavam ou que continuavam sempre no encontro seguinte. A mesma conversa em contínuo, retomada no ponto em que tinha sido deixada. Conversas que não vou retomar. Há seis anos, neste dia, beijei o meu Pai pela última vez. Como se fosse ontem. Como se fosse hoje. O tempo não passou.

2 comentários:

Margarida Rebocho disse...

Choro agora, pela tua saudade; pelo Pai que viste partir; pela tua dor!
Sinto o que tu sentes, porque és a Irmã que o meu coração escolheu!
Adoro-te!
Um beijo

Tio do Algarve disse...

muito sentido. Infelizmente também já passei pelo mesmo há alguns anos. E foi tão curto o tempo...