27 fevereiro 2007
O plagiador volta a atacar
E eu pergunto: como se pode falar de qualidade do ensino superior quando uma universidade tem (e sabe que tem) um plagiador compulsivo, um doente mental, num lugar importante e publica os seus plágios na revista da própria universidade?
Para memória futura
Já agora, a minha alegre casinha é aquela água-furtada lá em cima, à esquerda, «no primeiro andar a contar vindo do Céu».
E esta é a vista do meu terraço, do outro lado, virado para Monsanto.
Alfredo Kraus - Una furtiva lacrima
Esta é uma delas, na maravilhosa versão do maravilhoso Kraus. A primeira vez que a ouvi foi na televisão, precisamente pela voz de Kraus, já em fim de carreira. Fiquei rendida. Uma ária que fará sempre parte da banda sonora da minha vida.
DONIZETTI, Gaetano - L'elisir d'amore. Ária «Una furtiva lacrima»
25 fevereiro 2007
Kraus em "Il trovatore"
Talvez o meu tenor preferido, Alfredo Kraus, que teve o seu primeiro sucesso no nosso S. Carlos, ao lado de Maria Callas. Aqui, canta o Trovador, para que conste. Eu cá sei porque ponho isto aqui. Há mais quem saiba.
24 fevereiro 2007
Callas em São Carlos
VERDI, Giuseppe - La traviatta. Ária «Teneste la promessa... Addio lel passato»
«Foi com duas lágrimas a tremer-lhe nas pálpebras que acabou as páginas da Dama das Camélias. E estendida no voltaire, com o livro caído no regaço, fazendo recuar a película das unhas, pôs-se a cantar baixinho, com ternura, a ária final da Traviata:
Addio, del passato...»
(Queirós, Eça de - O Primo Basílio)
"La Traviata" estreou em Portugal, no Teatro de São Carlos, em 29 de Outubro de 1855. Interpretaram-na Maria Spezia, como Violetta, A. Volpini, como Alfredo e Ottavio Bartolini, como Germont.
Esta interpretação de Maria Callas, no Teatro Nacional de São Carlos, em 1958, dirigida por Franco Ghione, ficaria para a história de São Carlos e da própria Callas como uma das melhores versões de sempre da Traviata.
23 fevereiro 2007
O Filho da Madrugada
Faz hoje 20 anos. O Filho da Madrugada libertou-se de um corpo doente e ficou a viver connosco; para fazer parte da banda sonora das nossas vidas.
Canto moço
Somos filhos da madrugada,
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flôr no ramo.
Navegamos de vaga em vaga,
Não soubemos de dor nem mágoa,
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara.
Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira,
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira.
Mensageira pomba chamada,
Companheira da madrugada,
Quando a noite vier que venha,
Lá do cimo duma montanha.
Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora,
Onde há sempre uma boa estrela,
Noite e dia ao romper da aurora.
Vira a proa, minha galera,
Que a vitória já não espera.
Fresca brisa, moira encantada,
Vira a proa da minha barca.
21 fevereiro 2007
La ci darem la mano
MOZART, W.A. - Don Giovanni. Duettino «La ci darem la mano»
Foi neste duettino de Mozart que eu fiz a minha primeira audição de canto, em 2003. Apresento-vos uma versão decente, claro, não exporia os visitantes da BdJ aos meus guinchos insuportáveis. Pois, é que eu fazia de Zerlina... não tenho jeito para barítono.
Aqui podemos ouvir Carlos Alvarez como D. Giovanni e Angelika Kirchschlager como Zerlina. Este ano espero fazê-lo outra vez, com outro D. Giovanni. Inconstâncias de Zerlina...
19 fevereiro 2007
Rachmaninov - Concerto n.º 2
RACHMANINOV, Sergei - Concerto n.º 2, 2º movimento
Há coisas que não consigo explicar. Há uns anos atrás, esta música reconciliou-me com Deus (ou com a Inteligência Universal, a Ordem Cósmica ou como lhe queiram chamar).
17 fevereiro 2007
Eros Ramazzotti - Adesso tu
Eros Ramazzotti - Adesso tu
Quem se lembra dele tão novinho? Eu lembro-me, tenho esta mesma gravação em vídeo, do tempo em que eu esperava ansiosamente, ano após ano, pelo Festival de Sanremo. Devo ter cantarolado esta canção umas 3000 vezes, só naquele ano de 1986.
16 fevereiro 2007
Banquetes de Platão
A que se segue é a primeira de uma série de receitas inventadas por mim. É que o Jacinto Galião também gosta de comer. O salmão para esta receita deve ser pescado num elevador.
LOMBOS DE SALMÃO COM MOLHO DE MOSTARDA E MOZZARELLA NO FORNO
Lombos de salmão (1 por pessoa)
Mozzarella fresco fatiado (1 fatia por pessoa)
Molho sueco para salmão (à venda nas lojas especializadas) ou mostarda em creme
Azeite q.b.
Sal q.b.
Sumo de limão q.b.
Ervas finas q.b.
Põe-se o forno a aquecer.
Num pirex dispõem-se os lombos de salmão, sem se sobreporem. Regam-se com sumo de limão, um fio de azeite e uma pitada de sal. Barram-se como molho sueco para salmão (ou mostarda).
Coloca-se uma fatia de mozzarella sobre cada lombo. Salpica-se de ervas finas.
Tapa-se o pirex com folha de alumínio e leva-se ao forno a 200ºC durante 30/35 minutos (dependendo da grossura dos lombos).
Acompanha com puré de batata.
Fica um prato muito bonito e com um certo ar "gourmet"
Obs.: O molho sueco para salmão é um molho adocicado à base de mostarda (em creme) e endro fresco. Vende-se na IKEA (passe a publicidade, que não me pagam para isso). O queijo tem de ser mozzarella fresco; já experimentei com queijo fresco vulgar e não resulta porque não derrete.
15 fevereiro 2007
Your latest trick
Dire Straits - Your latest trick
Esta é dedicada a uma certa pessoa que sabe que esta lhe é dedicada...
14 fevereiro 2007
Take this waltz
Leonard Cohen - Take this waltz
Now in Vienna there's ten pretty women
There's a shoulder where death comes to cry
There's a lobby with nine hundred windows
There's a tree where the doves go to die
There's a piece that was torn from the morning
And it hangs in the gallery of frost
Ay, ay, ay, ay
Take this waltz, take this waltz
Take this waltz with the clamp on its jaws
Oh I want you, I want you, I want you
On a chair with a dead magazine
In the cave at the tip of the lily
In some hallways where loves never been
On a bed where the moon has been sweating
In a cry filled with footsteps and sand
Ay, ay, ay, ay
Take this waltz, take this waltz
Take its broken waist in your hand
This waltz, this waltz, this waltz, this waltz
With its very own breath of brandy and death
Dragging its tail in the sea
There's a concert hall in Vienna
Where your mouth had a thousand reviews
Theres a bar where the boys have stopped talking
They've been sentenced to death by the blues
Ah, but who is it climbs to your picture
With a garland of freshly cut tears?
Ay, ay, ay, ay
Take this waltz, take this waltz
Take this waltz its been dying for years
There's an attic where children are playing
Where I've got to lie down with you soon
In a dream of hungarian lanterns
In the mist of some sweet afternoon
And I'll see what you've chained to your sorrow
All your sheep and your lilies of snow
Ay, ay, ay, ay
Take this waltz, take this waltz
With its I'll never forget you, you know!
This waltz, this waltz, this waltz, this waltz ...
And I'll dance with you in Vienna
I'll be wearing a rivers disguise
The hyacinth wild on my shoulder,
My mouth on the dew of your thighs
And I'll bury my soul in a scrapbook,
With the photographs there, and the moss
And I'll yield to the flood of your beauty
My cheap violin and my cross
And you'll carry me down on your dancing
To the pools that you lift on your wrist
Oh my love, oh my love
Take this waltz, take this waltz
It's yours now. It's all that there is.
12 fevereiro 2007
11 fevereiro 2007
09 fevereiro 2007
As razões da escolha XXV
Pelo que tenho lido e observado, existem algumas pessoas que vão votar "Não" porque são insensíveis aos problemas sociais e humanos do aborto clandestino, tal como existem algumas pessoas que vão votar "Sim" porque são insensíveis ao direito à vida do feto.
Muito sinceramente, a opinião dessas pessoas não me interessa para nada nem respeito essas posições.
Sei que a maioria das pessoas que está a pensar votar "Sim" no referendo tem razões humanitárias. São pessoas sensíveis aos problemas dos outros e, portanto, de espírito suficientemente disponível para procurar soluções. E é a essas pessoas que se dirige este meu último post. Às que vão votar "Sim".
Vejamos os argumentos do Sim:
1º O problema do aborto clandestino em Portugal é dramático.
Ninguém o nega, mas esse drama é usado demagogicamente por aqueles que querem liberalizá-lo sem esclarecer muitos aspectos: esses abortos clandestinos são feitos em situações que a despenalização até às dez semanas iria evitar? Quantos abortos clandestinos são realizados depois das dez semanas? Quantos abortos clandestinos poderiam, na verdade, ter sido praticados no actual quadro legal? As mulheres recorrem ao aborto clandestino porque ele é proibido ou porque têm medo de perder o anonimato se forem ao hospital? Será que as campanhas pró-liberalização não têm contribuido para criar um clima de medo que leva as mulheres a evitar o hospital em situações em que o aborto seria autorizado?
É certo que têm sido publicados alguns inquéritos mas valem o que valem. São inquéritos, não são estatísticas. A verdade é que ninguém sabe seguramente estes valores.
2º A nossa lei é a mais restritiva da Europa.
É mentira. É uma mentira descarada e desonesta. Quem argumenta isso aproveita-se do facto de a maioria das pessoas não procurar informar-se sobre o assunto. A lei portuguesa é muito mais liberal que a polaca e a irlandesa e é tão restritiva como a espanhola.
Porque é que em Espanha se fazem abortos a pedido? Por duas razões: A primeira é que em Espanha se criaram clínicas especializadas em abortos que têm equipas médicas multi-disciplinares destinadas, apenas, a assegurar que todos os casos previstos na lei se "encaixam" nos casos pedidos: à falta de melhor, a razão de carácter psicológico serve para tudo e é fácil de encobrir porque, eliminada a causa - a gravidez - é impossível averiguar a sua veracidade. Essas clínicas não rejeitam nenhum pedido (ou rejeitam o mínimo possível) porque vivem, precisamente, de fazer abortos.
Mas há outra razão: as portuguesas que recorrem a essas clínicas são, para todos os efeitos, estrangeiras. Um aborto realizado - ainda que fora do quadro legal espanhol - a uma estrangeira é virtualmente impossível de controlar. A estrangeira chega, no mesmo dia é observada, é passada a respectiva prescrição, é realizado o aborto, a estrangeira vai-se embora. Depois de passar a fronteira quem é que a vai procurar?...
Fácil, não é? Ninguém se lembrou de fazer o mesmo do lado de cá para as espanholas abortarem fora do quadro legal deles...
3º O que se pretende é despenalizar e não liberalizar.
Outra mentira desonesta. Querem enganar quem? «Não é de graça, é mas é de borla?»... Se a pergunta diz, claramente «a pedido da mulher» isso significa que a mulher chega ao hospital ou à clínica, pede para fazer um aborto, fazem-lhe a ecografia para determinar o tempo de gestação e aborta. Mais nada. É aborto a pedido. Livre. Sem mais perguntas. Em estados de direito, tudo o que não é proibido é permitido. Portanto, se até às dez semanas o aborto não for proibido, passa a ser permitido. Isso é liberalizar. Tudo o resto são jogos de palavras.
4º Uma mudança na lei acabará - ou reduzirá drasticamente - os abortos clandestinos.
Não é possível saber. Era necessário saber qual o tempo de gestação médio dos abortos clandestinos para poder afirmar isso com segurança. Para além das dez semanas continuará a haver abortos clandestinos a menos que, mais dia, menos dia, queiram alargar o prazo para dez, doze, dezasseis... até que nenhum aborto
seja clandestino, mesmo aos oito meses. Convençamo-nos: vai continuar a haver mulheres a recorrer ao aborto clandestino, faça-se o que se fizer.
5º Nenhuma mulher realiza um aborto de ânimo leve.
Há mulheres que espancam e matam os filhos e atiram bébés a lixeiras.
Resumindo e concluíndo: liberalizar o aborto significa banalizá-lo e torná-lo um substituto da contracepção, uma forma de controlo de natalidade.
Se o "Sim" ganhar, o aborto clandestino não vai acabar, a penalização do aborto, a partir das dez semanas, vai continuar e continuará a haver julgamentos de mulheres.
Por outro lado, a sociedade vai descansar sobre o assunto, as consciências vão ficar mais tranquilas e questões como a sexualidade responsável, a contracepção e a educação sexual vão passar para último plano da agenda política.
Ao mesmo tempo, todo um conjunto de problemas se vão acumular aos que já existem: aspectos logísticos relacionados com os serviços públicos de saúde, listas de espera,
etc.
Se o "Não" ganhar, ainda é possível fazer alguma coisa para diminuir o aborto clandestino. Campanhas de informação que expliquem às mulheres que não tenham medo de recorrer ao hospital ou ao seu médico de família e colocar o seu problema: há muitas situações em que o aborto pode ser realizado legalmente, designadamente aquelas relacionadas com aspectos psicológicos, que a actual Lei prevê. As mulheres que recorrem ao aborto por desespero (e há situações terríveis que nem gosto de imaginar) terão a ajuda do médico e, se for justificável, o aborto será realizado dentro da lei.
As mulheres que recorrem ao aborto levianamente (também as há) continuarão a
ser impedidas legalmente de o fazer. Qual é o problema?
O "Sim" é irreversível. Ninguém vai pedir outro referendo, daqui a oito anos, se ganhar o "Sim". O "Sim" acaba com a discussão.
O "Não", bom... pela mesma lógica, o "Não" também deveria ser irreversível. Mas, principalmente, o "Não" é um incentivo a que se procurem outras soluções, mais dignas e mais humanas. O "Não" é um sinal de que os portugueses não se demitem das suas responsabilidades. O "Não" é um sinal claro de que queremos uma sociedade melhor, de que escolhemos o certo em detrimento do fácil.
O "Não" não é uma condenação a mulheres desesperadas. É uma mensagem de esperança em que é possível fazer melhor do isto. É possível resolver os problemas em vez de os ignorar e atirar o lixo para baixo do tapete.
Votar "Sim" não ajuda ninguém, nem evita problemas a ninguém, nem salva a vida de ninguém. Poupa, isso sim, muitas dores de cabeça aos políticos e a ajuda o negócio das clínicas de aborto "a granel".
Votar "Não" não manda mais mulheres para a prisão nem condena ninguém à morte. Evita, isso sim, a banalização do aborto e contribui para encontrar soluções.
Eu vou votar "Não" e tenho a consciência muito tranquila.
As razões da escolha XXIV. XXIII. XXII. XXI (cont.). XXI. XX. XIX. XVIII. XVII. XVI. XV. XIV. XIII. XII. XI. X. IX. VIII. VII. VI. V. IV. III. II. I.
07 fevereiro 2007
As razões da escolha XXIV
Diz este argumento que, quando uma mulher decide abortar, não há ameaça, punição ou risco que a faça mudar de ideias. Decorre desta convicção (que eu partilho) que não há nenhum aborto realizado dentro da lei que o não fosse fora da lei. Ao legalizar, estaríamos apenas a deslocar abortos clandestinos para os hospitais e clínicas (e não a acumular abortos legais a abortos clandestinos) e a proporcionar condições sanitárias a mulheres que, em qualquer caso, abortariam. Acresce - ainda dentro deste argumento - que, se as mulheres se dirigirem a um hospital ou a uma clínica sem receio de serem denunciadas ou presas, poderão, no contexto de uma consulta preliminar, ser demovidas dessa intenção "a bem" e não com ameaças pelo que até seria possível conseguir com a legalização aquilo que a punição não tem conseguido até agora.
Este é um argumento poderoso, consistente, pragmático e muito, muito convincente. Reconheço que, se algum argumento me convencesse, seria este.
Então porque é que voto Não?
Seria um lugar comum (nem sequer muito inteligente) responder que há mais argumentos pelo Não do que pelo Sim. Não é uma questão de número de argumentos. Um só argumento poderia ser suficientemente pesado para fazer pender o prato da balança, principalmente se esse argumento lida directamente com a realidade e não com um mundo ideal que não existe.
Sejamos, pois, pragmáticos. Olhemos a realidade. O que existe e o que pode ser feito. O que temos e o que podemos ter. Entre a actual situação legal e a hipotética legalização do aborto há alternativas, há outros meios, outras opções possíveis.
É errado pensar que a única coisa que se pode dar a uma mulher grávida com problemas é a opção de abortar legalmente. É errado, é injusto e pior: é cobarde!
Vejamos o projecto de lei do PS que já aqui publiquei. Este Projecto prevê, além da alínea que contempla o aborto a pedido até às 10 semanas, uma outra alínea - que não está sujeita a referendo - e que contempla a exclusão de ilicitude por razões socio-económicas.
Devo dizer, desde já, que considero excessivo o prazo previsto (16 semanas) para esta excepção. Mas esse é um detalhe. É secundário. O que me interessa é se as razões socio-económicas podem ser consideradas como uma justiicação para abortar. Penso que sim, penso que, se não for encontrada alternativa, deverá ser proporcionada essa possibilidade, em condições de higiene, segurança e dignidade.
Não quero estender-me demasiado nesta questão porque penso que esta, por si só, implicaria muita reflexão, designadamente quanto à averiguação das circunstâncias. Consideremos apenas uma alteração à actual lei permitisse a inclusão dessa excepção. Teríamos:
1º Em caso de risco de vida para a mulher - já contemplado;
2º Em caso de violação - já contemplado;
3º Em caso de risco de saúde física e psíquica da mulher - já contempado;
4º Em caso de malformação do feto - já contemplado;
5º Em caso de situação socio-económica grave e insolúvel em tempo útil - pode ser contempado, sem carecer de referendo
O que sobra?
Sobra o caso da gravidez saudável, resultante de um acto consciente e voluntário, de uma mulher com condições sociais e meios económicos para prosseguir a gravidez e que quer abortar porque não deseja o filho ou porque mudou de ideias. Só um caso desses carece da alínea que contempla o aborto a pedido. Todos os outros estão (ou poderão estar) contemplados sem ser necessário responder Sim no referendo.
Dizem os defensores da legalização - e eu concordo totalmente - que estes casos de irresponsabilidade, de leviandade, são residuais. Pois são. Os casos dramáticos das mulheres pobres e adolescentes - as tais que recorrem ao aborto de vão de escada - esses poderão ser contemplado com a inclusão da tal alínea que inclui os problemas socio-económicos. Os outros, os raros, os das mulheres que abortam levianamente, porque não querem o filho apesar de terem meios económicos e condições sociais - as tais que recorrem às boas clínicas - são os únicos - OS ÚNICOS - que precisam da legalização aborto a pedido.
Se as mulheres que recorrem ao aborto por real necessidade não forem sujeitas à prisão, se souberem que podem recorrer ao hospital e que aí - nos tais Centros de aconselhamento familiar previstos no Projecto de Lei - podem ser ajudadas e acompanhadas, então não é necessário instituir o aborto a pedido.
Não é necessário votar Sim para mudar a lei. É mentira. O Sim só serve para legalizar o aborto a pedido, para mais nada. É possível incluir as razões socio-económicas na actual lei, mesmo que ganhe o Não porque o Não só impede a legalização do aborto a pedido mas não impede o alargamento das actuais excepções.
É por isso que vou votar Não.
As razões da escolha XXIII. XXII. XXI (cont.). XXI. XX. XIX. XVIII. XVII. XVI. XV. XIV. XIII. XII. XI. X. IX. VIII. VII. VI. V. IV. III. II. I.
04 fevereiro 2007
O debate sobre o aborto no seu melhor X
O debate sobre o aborto no seu melhor IX
02 fevereiro 2007
Dreamer
Em 1974 eu ainda era muito novinha...
SUPERTRAMP - Dreamer
Dreamer, you know you are a dreamer
Well can you put your hands in your head, oh no!
I said dreamer, you're nothing but a dreamer
Well can you put your hands in your head, oh no!
I said "Far out, - What a day, a year, a laugh it is!"
You know, - Well you know you had it comin' to you,
Now there's not a lot I can do
Dreamer, you stupid little dreamer;
So now you put your head in your hands, oh no!
I said "Far out, - What a day, a year, a laugh it is!"
You know, - Well you know you had it comin' to you,
Now there's not a lot I can do.
Well work it out someday
If I could see something
You can see anything you want boy
If I could be someone-
You can be anyone, celebrate boy.
If I could do something-
Well you can do something,
If I could do anything-
Well can you do something out of this world?
Take a dream on a Sunday
Take a life, take a holiday
Take a lie, take a dreamer
dream, dream, dream, dream, dream along...
Dreamer, you know you are a dreamer
Well can you put your hands in your head, oh no!
I said dreamer, you're nothing but a dreamer
Well can you put your hands in your head, oh no!
OH NO!
As razões da escolha XXIII
Ora, se estamos todos de acordo, porquê tanto desacordo neste debate?
O desacordo está apenas e só na pergunta. Na forma da pergunta e no conteúdo da pergunta. Porquê? Porque a pergunta vem em pacote. De arrasto com a despenalização, vem a legalização. Não são apenas as mulheres que deixam de ser punidas, são todos os agentes e todos os responsáveis. O acto em si passa de ilícito a lícito. Pior passa a ser um direito. O que um dia é um ilícito no dia seguinte é um direito. É contra isto que está o "Não". Contra a legalização.
As razões da escolha XXII. XXI (cont.). XXI. XX. XIX. XVIII. XVII. XVI. XV. XIV. XIII. XII. XI. X. IX. VIII. VII. VI. V. IV. III. II. I.
O debate sobre o aborto no seu melhor VIII
«Ocupámos uma casa na Cova da Piedade, começámos por dar consultas e apareciam-nos muitas mulheres para fazer abortos ... como não podíamos fazer todos os abortos que apareciam, foram-se formando outros grupos» (Maria Belo)
O debate sobre o aborto no seu melhor VII. VI. V. IV. III. II. I.
01 fevereiro 2007
O debate sobre o aborto no seu melhor VII
O debate sobre o aborto no seu melhor VI
Assisti ontem, entre o atónita e o incrédula, ao debate na TSF entre Daniel Oliveira e João César das Neves.
Só conheço estes senhores de nome, já aqui tinha elogiado um texto de Daniel Oliveira (certamente o mais inteligente e sério argumentário a favor do Sim que já tive a ocasião de ler) e nunca tinha lido nada de César das Neves embora conheça as suas posições. Depois dos debates civilizados entre Inês Pedrosa e Rosário Carneiro (com uma acentuada vitória desta última) e entre Helena Roseta e a Maria José Nogueira Pinto (com uma folgada vitória da primeira), só a incredulidade me podia assaltar ao assistir ao debate de ontem.
César das Neves pode ser um homem de convicções e pode ser muito honesto em relação a essas convicções. Mas não foi honesto no debate de ontem. Não foi honesto e deu muitos, muitos argumentos a Daniel Oliveira que conseguiu facilmente deixar ficar mal todos aqueles que, com honestidade e sem radicalismo, estão contra a legalização do aborto a pedido. Dei comigo a "torcer" por Daniel Oliveira e a mandar calar César das Neves (exercício inútil porquanto a comunicação por rádio é unívoca...). A mandar calar porque já nos tinha enterrado o suficiente, a nós, aos que vamos votar Não. Se o Prof. João César das Neves não conhece, entre os defensores do Não, quem concorde com as excepções contempladas na actual lei, é porque anda muito distraído ou se está nas tintas para o que pensam aqueles que o rodeiam. Eu não estava na Marcha pela Vida porque não vou a marchas nem a manifestações nem a comícios. Não faz o meu género. Mas ouvi esse senhor dizer que, na dita Marcha, não havia quem estivesse a favor da actual lei. Engana-se. Há muitas pessoas no "Não" que acham que a actual lei devia mudar mas no sentido do alargamento das excepções, não na sua eliminação.
O Prof. João César das Neves afirmou-se contra o direito legal a abortar em caso de violação. Daniel Oliveira disse a única coisa que um homo sapiens pode dizer: isso é uma desumanidade. É, Prof. César das Neves. Compreendo que o senhor não consiga imaginar o horror de uma violação. Mesmo eu, que sou mulher, tenho dificuldade em imaginar. Mas a sua filantropia cristã podia ajudá-lo a compreender o incompreensível. Também não sabe o que é passar fome, também não sabe o que é sofrer um atentado terrorista, também não sabe o que é ter febre hemorrágica. Precisa de passar por isso para compreender e para se compadecer de quem sofre esses horrores? Ou também responde aos famintos "se não têm pão comam bolos"? Forçar uma mulher violada a levar até ao fim o fruto dessa violação é uma violência somada a outra violência.
Claro, Daniel Oliveira aproveitou oportunamente estas declarações de César das Neves para afirmar que os defensores do Não pensam todos como ele mas não têm coragem de o confessar. Não é verdade. É absolutamente falso. A maioria das pessoas que estão contra a legalização concordam com as actuais excepções e há muitas que concordam com o seu alargamento.
Mas não posso criticar Daniel Oliveira por este recurso retórico, até porque o seu interlocutor não negou. E ele aproveitou. Eu faria o mesmo, principalmente se estivesse a debater com alguém que, em pouco mais de 5 minutos, me chamasse ignorante e estúpida, em directo na rádio. Pensando melhor, não, eu não faria o mesmo. Acho que lhe teria ido às goelas.
Será por isso que não me chamam para debates?...
O debate sobre o aborto no seu melhor V. IV. III. II. I.